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Agrônomo, com interesses em música e política

terça-feira, 24 de março de 2015

São Francisco, o Rio

Composição de Gigi Castro, Soraya Vanini, Ângela Linhares e Magnólia Said. gravado durante a atuação da FRENTE CEARENSE POR UMA NOVA CULTURA DAS ÁGUAS E CONTRA A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO (2007).


vocal: Gigi Castro e Ângela Linhares; 
contrabaixo: Erasmo Lousada; 
guitarra elétrica: Oscar Arruda; 
flauta: Zé Rodrigues; 
percussão: Rodrigo de Oliveira; 
efeitos sonoros: Nino Amorim.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Ponto de Vista

Por Henrique Araújo

Num 15 de março, trinta anos atrás, um civil assumia a presidência do Brasil, colocando fim a 21 anos de ditadura militar.
 Três décadas depois, parte dos brasileiros manifesta nas ruas o desejo de retorno dessa máquina de morte. Por trás do piquenique cívico que se desenrolou em bairros de classe média alta do País, a perigosa adulação às forças armadas é só uma das preocupações.
Há outras, como os gritos de "Fora Supremo (Tribunal Federal) e Dilma", "Feminicídio, sim; 'fomecídio', não" e "O Brasil não será uma nova Cuba" - este, coincidentemente, já velho conhecido da história nacional. 
Em 1964, o temor de que o País se transformasse na ilha de Fidel ensejou o estado de exceção.
Hoje, a insistência no impeachment flerta com o golpe. 
Com naturalidade, manifestantes exigem o fim da corrupção enquanto desfilam camisas da CBF, entidade mafiosa. É o retrato da ignorância política.

Mimi ou Zé Dirceu, o gato do meu avô

Por Iana Soares

Meu avô tinha costume de anotar receitas para minha avó Ilza. Acumularam cadernos com aquela letra desenhada como quem inventa versos. No final de cada lista de ingredientes e modos de preparo, tiradas de revistas e programas de TV, escrevia: “receita anotada por Luís, no dia tal do ano tal”. A assinatura tinha mais arte do que qualquer verso de Drummond ou Álvaro de Campos, meu Pessoa favorito.

O Vô Luís tinha também um gato de nome camaleônico. Às vezes era Mimi, outras Zé Dirceu. Tinha coleirinha vermelha que lhe conferia um tanto de personalidade, no meio do pelo cinza escuro. Ainda não tinha sido inventado o adjetivo “petralha”, mas meu avô descobriu a raiva da estrela no primeiro governo. Votou no Lula, mas sentiu a traição na reforma da previdência. Depois veio o mensalão. Cada vez que aparecia o Pallocci, debatia com a televisão como se conseguisse teletransporte imediato para Brasília. Quando o gato fazia besteira, reclamava soltando um “esse Zé Dirceu é um safado”.

Esta semana ensinei a amigo como fazer mousse de limão com morango e kiwi. Em troca, aprendi a cozinhar tortilha de batatas, feijão com arroz espanhol. Lembrei dos cadernos.. Nunca anotei receita e tive saudades. Meu avô não precisou ser poeta para fazer poesia.

Não sei como amanheceremos depois da manifestação esquisita de ontem. Entreguei o artigo antes da tal passeata, mas acho que é a primeira vez que me angustia ver gente na rua se manifestando. É estranho. Já participei de caminhadas da Via Campesina, dancei torém com o movimento indígena, reivindiquei melhorias na universidade pública, fui à Parada da Diversidade Sexual, andei o Centro de Fortaleza contra a Guerra do Iraque. Agora, me assusta ver que o impeachment foi pedido na Câmara por Jair Bolsonaro. Aquele que disse que só não estupraria uma deputada porque ela não merecia. Um deputado homofóbico e racista com vasta coleção de declarações criminosas.

Tem algo errado em manifestação que fala de impeachment de forma tão rasa. Tem algo perigoso em tanta gente mobilizada pelo ódio que não consegue se esconder sob a máscara de “cidadãos de bem”. Lembrei do antipetismo do vô Luis. Ele usava panelas para investigar o amor, nunca para destruir uma democracia.

Iana Soares
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2015/03/16/noticiasjornalopiniao,3407707/mimi-ou-ze-dirceu-o-gato-do-meu-avo.shtml

quinta-feira, 12 de março de 2015

A enxaqueca nacional

Por Henrique Araújo

Um espectro ronda o Brasil – é o espectro do dia 15 de março. Começou como uma marola, mas agora, depois do álbum de figurinhas da Copa do Janot, ameaça ganhar força. O que vai acontecer no próximo domingo? Muita gente se pergunta. Povão nas ruas? Gatos pingados? Caras pálidas ou coloridas? Onde o ponto de encontro, no pátio Dom Luís ou na Praça Portugal? Vão de pulôver ou de abadá? Distribuirão pulseiras quânticas ou bandanas de uma marca de cosméticos? Haverá estandes de apoio com acompanhamento médico a cada quarteirão e reaplicação de bloqueador solar? Venda de camisetas do Luciano Huck? Wifi? Manobrista?


O esforço de adivinhação é mais que curiosidade. Quero tentar enxergar o rosto desse Brasil que bate panelas (Tramontina?) na varanda do apartamento (160m² e pé direito alto?) num domingo de noite (sob ar-condicionado?), mas ignora quando um pedreiro é morto pela Polícia num morro carioca, um adolescente é espancado amarrado a um poste, o filho de um casal gay é assassinado. Quero conhecer a verdade que cala fundo na alma desse cidadão e dessa cidadã que chamam de vagabunda uma mulher já avançada na idade, mas tratam com deferência um governador que mentiu sobre a segurança hídrica do estado que administra.

Quem é esse povo que expulsou Guido Mantega de um hospital enquanto o ex-ministro acompanhava a esposa que se tratava de câncer? Quem é essa gente que vaiou os médicos cubanos? Os mesmos do #viadutosim? Os que afixaram no vidro da SUV “Fora Dilma e leve junto o PT”? Quem é essa gente para quem o feminicídio desrespeita a universalidade dos direitos, mas não se preocupa em investigar o morticínio de mulheres a cada ano? Quem é essa gente que pretende instituir o Dia do Orgulho Hetero? É a mesma que acredita na mão invisível do mercado, mas não consegue explicar a débâcle mundial em 2008?

É ocioso comparar o 15/3 às manifestações de junho de 2013. Primeiro, porque já houve manifestações – a de domingo, mesmo que uma parte da imprensa esteja empenhada em divulgar local, data e hora, rotas de ônibus e sugestões de frases para cartazes, ainda é uma possibilidade. Além disso, as motivações políticas se distanciam no tempo e no espaço. Um, a Copa do Mundo e os gastos com as obras; o outro, uma genérica revolta contra a corrupção, um moralismo que faz tabula rasa do Congresso e esse sentimento cada vez mais difuso de anti-petismo.

Quando soube que a “classe média alta, caucasiana e heteronormativa” (li essa bobagem no Facebook) havia protestado, tentei enxergar tudo como se fosse minha avó. Diante de qualquer cena, ela suspirava e dizia algo que, traduzido para o português de hoje, equivale a ”vida que segue”. Minha avó não era conformista, tampouco alarmista, muito menos “dilmista” ou “lulista”. Diria que uma leitora de Terêncio: nada do que fosse humano lhe era estranho. Guerra civil, terceiro turno, tentativa de golpe: patacoada. Minha avó só se espantava com o que já não causava espanto. Hoje, o que causa espanto não é que as pessoas batam panelas nas varandas de suas casas, mas que só façam isso pelas razões erradas.

http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2015/03/12/noticiasjornalvidaearte,3405613/a-enxaqueca-nacional.shtml

Lauro Maia



Documentário produzido pelo Núcleo de Documentários da TV Assembleia Ceará.

Concepção, Roteiro e Produção: Angela Gurgel
Colaboração de Produção: Ana Célia Oliveira
Edição de Texto: Vinicius Augusto Bozzo e Angela Gurgel
Edição de Imagens: Daniel Cardoso
Apresentação e Locução: Janaína Gouveia
Imagens: Odério Dias, Pedro Paulo, Fábio Ferraz, Wellington Barros, Hermann Lustosa
Animação da Abertura: Márcio Medeiros e Rafael Alves
Estagiário: Marcelo Alves

terça-feira, 10 de março de 2015