Quem sou eu

Minha foto
Agrônomo, com interesses em música e política

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A tristeza é senhora

 por Sandra Helena de Souza
Sandra Helena


Eu gostaria de ser de algum partido de esquerda como amiúde me acusam os adversários de debate. Se o fosse, estaria agora pragmaticamente envolvida no pleito municipal, dando por favas contadas o ‘impeachment’ e fazendo as contas de como retornar ao poder em futuro próximo, encontrando desculpas rotas para justificar minha ausência ou nula presença na dura luta contra o golpe; ou às voltas com alianças estapafúrdias com golpistas em nome de sabe-se lá o quê.

Mas não sou e, como eu, tantos e tantas militantes das boas causas país afora, estamos tomados por uma tristeza assombrosa que percorre dias e noites insones e faz nos arrastarmos como zumbis, cumprindo as tarefas do cotidiano sem paixão, acometidos de melancolia política. De uns tempos para cá, ficou cada vez mais claro que esses difíceis dias de consumação do golpe chegariam e teríamos de atravessá-los, mas nem toda preparação foi suficiente para evitar-me as lágrimas teimosas que me acompanham no carro na ida e volta do trabalho.

É claro que não há saída política que não passe pelas urnas, mas também é claríssimo que não há como negar o tom de farsa das eleições vindouras. Simplesmente não há mais normalidade democrática no País e todo o esforço para lustrar o processo com a aparência do jurídico perfeito não resiste a uma ou duas perguntas bem formuladas. Em ambientes acadêmicos como o meu, a omissão e o silêncio atordoante diante do crime político de lesa-democracia põem a nu toda a vanidade do conhecimento desacoplado dos valores civilizatórios fundamentais. Os defensores da Escola sem Partido já podem ir se considerando com meia-partida ganha.

As recentes revelações no julgamento do Senado, com a testemunha de acusação revelando que formulou a peça que ele mesmo julgou, apenas conferem ao teatro do absurdo mais um toque burlesco. Nada mais parece capaz de reverter o infortúnio pessoal de Dilma Rousseff, cassada de seu mandato legítimo, tornada inelegível e impedida de exercer quaisquer funções públicas por anos, um feito do qual nos envergonharemos e muitos daqueles que hoje já começam a se mostrar ‘surpresos’ com as medidas tomadas pelo conglomerado que tomou de assalto o poder terão razões de sobra para suas pantomimas de ocasião.

Nossa democracia nem conseguiu tornar-se balzaquiana. A minha geração nascida sob a mais violenta das ditaduras não se imaginou viver um golpe em tão curto espaço de tempo. Fosse apenas Dilma a apeada como foi o caso Collor e poderíamos, sem incômodo, fazer coro às inúmeras críticas à sua persona política. Mas é também um projeto de país, construído desde a redemocratização aos trancos e barrancos, desmoronando, diante de nós, o futuro de milhões e milhões de jovens novamente comprometido, a criminalização da política em ponto ômega, as esquerdas atônitas e aquém de seu papel, a hipocrisia, o ressentimento, o ódio, o autoritarismo de volta.

Os inimigos estão no poder. É hora de admitir isso e reinventar a luta. Para que o futuro não tarde 21 anos. Vida longa a Dilma Rousseff.


http://www.opovo.com.br/app/opovo/dom/2016/08/27/noticiasjornaldom,3653317/artigo-a-tristeza-e-senhora.shtml

A Flor e a Náusea



A Flor e a Náusea
Carlos Drummond de Andrade

Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Na sexta com Fabiana




A cantora Fabiana Cozza interpreta esse samba de Wilson da Neves e Paulo Cesar Pinheiro.

O Samba É Meu Dom

O samba é meu dom
Aprendi bater samba ao compasso do meu coração
De quadra, de enredo, de roda, na palma da mão
De breque, de partido alto e o samba canção

O samba é meu dom
Aprendi dançar samba vendo samba de pé no chão
No Império Serrano a escola da minha paixão
No terreiro, na rua, no bar, gafieira e salão

O samba é meu dom
Aprendi cantar samba com quem dele fez profissão
Mário Reis, Vassourinha, Ataulfo, Ismael, Jamelão
Com Roberto Silva, Sinhô, Gonga, Ciro e João Gilberto

O samba é meu dom
Aprendi muito samba com quem sempre fez samba bom
Silas, Zinco, Aniceto, Anescar, Cachinê, Jaguarão
Zé com Fome, Herivelto, Marçal, Mirabeau, Henricão

O samba é meu dom
E no samba que eu vivo do samba que eu ganho meu pão
E é no samba que eu quero morrer de baquetas na mão
Pois quem é do samba meu nome não esquece mais não

A política nos jogos olímpicos

Por Américo Souza
Américo  Souza


Desde o seu início, os Jogos Olímpicos têm sido sistematicamente utilizados para fazer política, especialmente a promoção de Estados e regimes controversos. Quem não lembra dos boicotes de EUA e URSS, respectivamente em 1980 e 1984, ou o esforço de promoção do nazismo nos jogos de 1936 e do comunismo chinês nos jogos de 2008? Nos recém-encerrados Jogos do Rio, não foi diferente.

Vimos a forma habilidosa como a ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) convenceu o Comitê Olímpico a bancar a Delegação de Atletas Refugiados, chamando a atenção do mundo para a grave crise humanitária que conflitos como os da Síria e do Sudão do Sul promovem. Todavia, as mensagens políticas mais fortes e provocadoras não se fizeram por via institucional, mas pela manifestação espontânea de atletas e torcedores. Mensagens como a da nadadora dos EUA Simone Manuel, que ao ganhar o ouro disse lamentar a elitização de seu esporte, evidenciada por ser ela a única nadadora negra nas finais, e de sua compatriota Ibtihaj Muhammad, que dedicou seu bronze à luta contra o preconceito sofrido pelos muçulmanos em seu país. Ainda entre os atletas, o desabafo de Rafaela Silva contra o racismo hipócrita da sociedade brasileira foi duro e necessário.

Nas arquibancadas, mereceu destaque o protesto da torcedora iraniana Darya Safai, nos jogos de vôlei, pedindo por mais liberdade para as mulheres em seu país, e a criatividade de vários torcedores brasileiros para manifestar sua insatisfação com o governo golpista de Michel Temer, ambas dura e vergonhosamente reprimidas pela polícia, para quem esporte e política não combinam.

Esses episódios, noticiados por vezes a contragosto da imprensa, eram, no dia seguinte, pragmaticamente “esquecidos” diante do brilho inebriante das medalhas e dos recordes.

Assim, terminada a Olimpíada, seguimos confortáveis em nossas poltronas deliberadamente, alheios aos que, por seu gênero, sua cor ou sua crença, precisam lutar diariamente por dignidade e cidadania.

http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2016/08/26/noticiasjornalopiniao,3652599/a-politica-nos-jogos.shtml

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

SOMOS TODOS UMA OVA

por Henrique Araújo

Henrique Araujo

Não sei como tudo começou, se foi antes ou depois dos ataques terroristas a Paris, cerca de um ano atrás. Fato é que, em algum ponto nebuloso da história recente, essa ideia enganosa de livre e irrestrita adesão às dores do outro rapidamente se difundiu, ganhou vida nas redes sociais e encontrou sua total falência no mercado publicitário, ainda que a serviço de uma boa causa, como a campanha da Agência África para a Vogue Brasil sobre os Jogos Paralímpicos mostra agora.

Antes, um parêntese: além de incerta, a genealogia do “somos todos” é de gosto muito duvidoso. Na época do Charlie Hebdo, parecia honesto e verdadeiramente importante fazer parte daquele sentimento, que acreditávamos pertencer a todos, sem nos perguntarmos de quem estávamos realmente falando. O “todos”, ali, funcionava muito bem como hashtag, mas ia mal como elemento concreto de coesão entre pessoas.

Desde quando concordamos em supor que uma pessoa pode ocupar o lugar de outra sem que lhe passe pela cabeça o que é ter um braço a menos ou uma perna mecânica? Pior: que licença temos para não apenas representar, mas substituir essa dor, escondendo sua origem e, em seu lugar, elegendo uma dissimulação ao que se pretendia realçar?

Os criadores da peça da África acharam que isso tudo era mero detalhe. Rapidamente: o anúncio tem - ou tinha, não sei mais - o objetivo de dar visibilidade aos Jogos Paralímpicos no País, que começam em 7 de setembro. Com o problema de baixa venda de ingressos e falta de patrocínio, a agência de publicidade, a pedido da revista, convidou os atores Cléo Pires e Paulinho Vilhena para viver dois paratletas, Bruna Alexandre (tênis de mesa) e Renato Leite (vôlei sentado).

A causa é nobre: em contraste com a alta demanda de bilhetes para as Olimpíadas e a farta cobertura da imprensa, as Paralimpíadas são um fiasco. A impressão que se tem é de que o espírito de congraçamento que serve de esteio aos jogos se restringe aos atletas que possuam todos os membros e nenhuma restrição à sua capacidade motora. Fora desse ideal de corpo apolíneo, com o qual nos identificamos mais facilmente, não vale a pena acompanhar. Sem audiência, os patrocinadores fogem. Sem dinheiro, não há visibilidade. Sem visibilidade, é como se esses paratletas não existissem. E aí entram os atores. Sua função é tornar real o que já é real, mas ninguém vê. Estão ali, ainda que bem-intencionados e com a concordância dos paratletas, a fim de passar uma mensagem de contraste. Poderia ser comigo, o Paulinho. Poderia ser com a Cléo. Isso soa melhor ou pior para vocês?

O resultado, como se previa, foi desastroso. Sob o mote de “Somos Todos Paralímpicos”, a campanha mostra quem não precisa aparecer e esconde quem deveria se exibir. Não sei se há parâmetro na história da propaganda nem justificativa para o que fizeram. É caso mais para se refletir. E rever práticas já usualmente aceitas. A gente não quer atores interpretando negros nem pessoas com deficiências. Queremos negros nas novelas e nos jornais, não apenas como garotas do tempo, mas nas bancadas também. E paratletas de verdade dizendo o que sentem e as dificuldades que encontram pelo caminho.

Sem isso, o “somos todos” é falacioso. É uma piada de péssimo gosto.

http://www.opovo.com.br/app/colunas/henriquearaujo/2016/08/25/noticiashenriquearaujo,3652067/somos-todos-uma-ova.shtml

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

DES_GUIA ETÍLICO_GASTRONÔMICO_MUSICAL DE FORTALEZA

Por Marcus Vinicius

Ao Francisco Ferreira Neto ( Chaguinha )

O Des_Guia,  não tem nenhuma pretensão de concorrer com aquela revista. Ou com aquela promoção: "Comida di...". Nesta enquete não rolou jabá.

A pesquisa foi realizada em 2012, pelo blog Diumtudo. O livro foi publicado no verão de 2015.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Carta para Helena


Fortaleza, maio de 2016.


Minha pequena Helena,


Antes de abrires teus olhinhos pra ver o mundo, já nos acende um sentimento novo no coração.
És a primeira das nossas melhores expectativas!

Viverás em um planeta muito bonito e, por vezes, encherás teus olhos com tanta beleza.
Porém, esse mundo em que vivemos, não tem sido acolhedor com os seres que ele abriga.

O planeta terra, onde a gente vive, é formado por muitos rios, pelos mares, pelas florestas e montanhas que chamamos de natureza e, aqui moram muitos animais, uns bem grandes e outros tão pequeninos que cabem dentro da tua mãozinha.

Muitas pessoas que vivem aqui na terra, estão se esquecendo de cuidar da natureza e de todos os seres vivos.

Algumas palavras que aprenderás, como intolerância, egoísmo, ganância, individualismo, preconceito, têm muita responsabilidade por isso tudo.

Neste ano de 2016, do teu nascimento, o nosso país, o Brasil, está passando por um período de muitas ameaças.
A mais grave delas é a uma palavra que se chama democracia.

Quando cresceres um pouco mais, vou te explicar o que ela significa e vou te contar que por ela e em defesa dela, muita gente sofreu.

Vou contar a história do teu bisavô Américo e como ele lutou pela democracia.

Infelizmente, nesses tempos, parece que muitas pessoas estão esquecendo-se de usar a palavra respeito.
Esta bela palavra não significa que temos que concordar em tudo com a outra pessoa, mas significa não discriminar ou ofender essa pessoa pelas suas escolhas, seus pensamentos e sua forma de viver.
A falta do respeito esbarra numa palavra muito dura: a intolerância.

Estou torcendo muito para que essa realidade mude logo.
Por isso, minha menina, não poderei te prometer tempos fáceis!

Mas, posso prometer cantar as mais belas canções que aprendi,
Para te fazer dormir e espantar teus medos.
Também prometo mostrar o mundo das histórias, que moram dentro dos livros e que nos ensinam como viajar para lugares muito distantes, com o nosso pensamento.

Num dia de sol, prometo que conhecerás o mar, uma água muito grande, que pode nos levar, de verdade, para quase todos os lugares do mundo.

Eu te darei, pra provar, pitomba e seriguela, frutinhas pequenas que guardam a infância e, vou te deixar se lambuzar de mangas e cajus que deixarão para sempre, em tua língua, o doce, o azedo e o travoso de maravilhosos sabores.
E, nesses dias, prometo que vamos todos virar crianças, com a alegria dos teus risos e das tuas gaiatices.
Tu vais conhecer e conviver com algumas pessoas maravilhosas, que te ensinarão palavras que te farão enxergar além dos horizontes e te abrirão novos caminhos.
E com outras, que tentarão influenciar tuas escolhas.

Mas saiba querida, que caberá somente a ti escolher o teu caminho.

Aprenderás que os caminhos às vezes são planos e cheios de lindas paisagens, e andarás por eles como se fosse um passeio.
E que, às vezes, eles têm curvas cansativas e grandes montanhas que precisarás subir ou contornar, mas, sei que terás a energia e a vontade necessárias para transpor todas as dificuldades.

Porém, não precisas te preocupar com isso agora;
Além do mais, sempre terás pessoas queridas ao teu lado.
Quando não estiveres bem e quando estiveres muito bem.

E saiba que cada uma dessas pessoas será importante na construção de cada pedacinho da tua identidade.
No entanto, nós, essas pessoas ao teu lado, não somos as “sabichonas” que iremos te ensinar tudo e tenho a certeza de uma coisa muito boa:
A nossa garotinha vai nos trazer muitas ideias novas e nos ensinará um pensar e um olhar diferente.

O amor não tem preconceitos e não se mede por nossas ações, nem por nossas escolhas, portanto, sejam quais forem as tuas, o meu lado sempre será o teu lado.
E vou torcer sempre por ti, sobretudo por tua felicidade.

Precisamos falar também de duas palavras que sempre andam juntas: alegria e risada.
Esta tua avó cearense não tem o espírito “moleque”, famoso nessas terras de José de Alencar e de Chico Anísio!
Mas, o humor é fundamental e já me disseram que quem sabe rir de si mesma vê a vida de uma perspectiva diferente e é capaz de torná-la mais leve.
Por isso, ria sempre e ria muito.

Por fim, gostaria de te dizer que dê muita importância a sentimentos como amor, generosidade, justiça, indignação...
Essas palavras são forças transformadoras!

Porém, de todas elas, uma para mim é especial: a palavra ética.

Na nossa família aprendemos o que ela significa e este foi o nosso melhor ensinamento.
A ética é uma palavra pequena, mas é muito grande no significado. Ela nos ensina a viver e conviver com as pessoas e faz com que a gente seja uma pessoa bacana de verdade.
Aprenderás muitas palavras, umas duras, outras doces, que farão de ti a pessoa que serás.
Mas, sobretudo, como disse o ídolo revolucionário Che Guevara, que um dia acreditou que mudaria o mundo:

“Não perca a ternura jamais”!

E para não dizer que não falei da poesia, deixo-te uns versos, entre tantos, que gosto muito. 

Põe quanto és no mínimo que fazes
Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa)


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Vou finalizar essa cartinha com uma música que, quando ouço, me faz pegar pelo braço a menina que ainda dança dentro de mim e sair rodopiando com ela.
Quando cresceres, não se esqueça de levar sempre contigo a tua menina que dança!


A menina dança 
– Moraes Moreira e Galvão


Quando eu cheguei tudo tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma
Viro os olhinhos

Só entro no jogo por que
Estou mesmo depois
Depois de esgotar
O tempo regulamentar
De um lado o olho desaforo
E o que diz o meu nariz arrebitado
Que não levo pra casa
Mas se você vem perto eu vou lá

Eu vou lá

No canto do cisco
No canto do olho a menina dança
Dentro da menina
A menina dança

E se você fecha o olho a menina ainda
Dança dentro da menina
Ela ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer
Nascer o que há.

Quando eu cheguei tudo tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma
Viro os olhinhos.

Seja bem vinda ao mundo minha querida!

Um beijo da avó que te aguarda,

Vólia.

Isaquias Queiroz, um mito histórico


Na edição do Rio de Janeiro do Jogos Olímpicos dois atletas foram reiteradamente aclamados como mitos do esporte, o nadador estadunidense Michael Phelps (ganhador de 28 medalhas em 4 olimpíadas) e o jamaicano Usain Bolt (primeiro tricampeão olímpico das provas de velocidade do atletismo).
Mas o que um atleta precisa realizar para tornar-se um mito? Aliás, é possível classificar uma conquista esportiva como mítica? 
O mito, nos ensina a História, é, necessariamente, uma narrativa alegórica que busca nos ajudar a compreender a vida, mas sem compromisso com a verdade. Significa, então que os mitos são uma mentira? Pensemos...
Para Mircea Eliade, o mito é sempre uma narrativa que procura contar, graças aos feitos dos “seres sobrenaturais”, como uma realidade passou a existir. Neste sentido, temos sempre o relato de uma criação e de um momento fundador, relato esse que procura mostrar como algo foi produzido e a partir de quando começou a existir. Roland Barthes, por sua vez, alargou os horizontes da interpretação mítica por meio de análises de diversos aspectos da vida francesa (para ele, o mito poderia ser visto numa luta de telecatch, no strip-tease, nas propagandas de detergentes, no rosto da atriz Greta Garbo etc.). Ou seja, Tudo seria capaz de constituir-se num mito, desde que fosse suscetível de ser julgado por um discurso. O mito, assim, não se definiria pelo objeto de sua mensagem, mas pela maneira como ela é proferida. 
Por último, importa mencionar Joseph Campbell, para quem o herói na narrativa mítica, invariavelmente, realiza um caminho baseado no trinômio “separação-iniciação-retorno”: alguém que provém do mundo cotidiano acaba por aventurar-se numa zona de “prodígios sobrenaturais”; ao longo dessa aventura, é preciso que ele seja submetido a diversas provas, até obter a vitória decisiva. Alcançada a recompensa, tem-se o caminho da volta, tão penoso quanto o inicial: o herói deve agora retornar sob as bênçãos alcançadas e, com o elixir da vitória, restaurar o mundo inicial, ao qual ele pertencia antes de iniciar a aventura.
Se tomarmos como válidas as reflexões destes três intelectuais, podemos compreender duas coisas. A primeira delas é que o mito não é uma mentira, mas uma necessidade humana de olhar o mundo e formular exemplos positivos, que antes eram protagonizados por seres sobrenaturais, atualmente por homens comuns que se fazem extraordinários. A segunda é que o esporte é, em nosso tempo, um campo mais que fértil para a produção de mitos. Isto posto, é certo que Phelps e Bolt, assim como Mohamed Ali, Nadia Comaneci, Javier Soltomayor, Florence Griffith-Joyner, são exemplos perfeitos disso que podemos chamar de mito moderno, ou de mito histórico, posto que se constrói por meio de uma narrativa histórica concreta e tem como heróis seres humanos reais. 
Tá, tudo bem, mas e o Isaquias Queiroz, este texto não é sobre ele? Você deve estar se perguntando. Pois bem, correndo o risco de soar ufanista, penso que o menino-herói de Ubaitaba, mais que qualquer outro cumpre os requisitos para ser reverenciado como um mito. 
Ao conquistar pela primeira vez três medalhas olímpicas, ele cumpre a premissa de Eliade e funda um novo momento: hoje diferentemente de ontem o país inteiro sabe o que é a canoagem esportiva. A maneira como a narrativa de suas conquistas se construiu, repleta de drama, suspense e aventura, o mitifica exemplarmente, segundo os critérios de Barthes. Por fim, a exigência de Campbell de que haja o sofrimento probatório que leva à vitória e o retorno triunfal do herói laureado, encontra em Isaquias Queiroz, jovem negro e pobre, nascido em um país racista e elitista, que ainda na infância venceu a doença e a violência, que na juventude se jogou no mundo e obteve conquistas em terras distantes (Durenberg e Moscou), e que hoje, em sua terra natal, torna-se o maior atleta olímpico brasileiro, a realização mais que perfeita.
Viva Isaquias Queiroz, mito histórico brasileiro!

Eleições em Fortaleza 2016



"João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes


que não tinha entrado na história." 


do imenso Drummond.

Trocarei o verbo amar por "odiar".

Vou tentar substituir os nomes do poema pelo nomes

dos/das candidatos/as à prefeitura de Fortaleza.


No que imagino ser o "motor" da campanha que começa hoje.

Os bebâdos e a lei.

 Sempre falei: desconfiem de quem, podendo, não bebe.

 E quando se bebe, muitas vezes, ficamos bêbados.
 Algumas vezes "bebubosta" e daí muitas vezes esquecemos  do que fazemos.
 E a bebida embebeda coxinhas mortadelas e quejandos.
 É só sorver à vontade.
 Pois é, deve ser isso, pois os indigitados que sorvem o tal  líquido foram "acusados" por um juiz "supremo" de serem os  autores da lei da ficha limpa.
 O juiz parece que não bebe. E assim segue imparcial e justo.
 O juiz: Gilmar Mendes
 A lei: A da ficha limpa

fonte jornal opovo