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Agrônomo, com interesses em música e política

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Ao amigo Américo Barreira

Por Lana Araújo

Ao amigo Américo Barreira,

Quando fui convidada pelo Marcus Vinicius para escrever sobre o Dr. Américo Barreira, fiquei um pouco receosa. Como eu poderia escrever sobre uma figura tão brilhante e tão múltipla? Outras pessoas já o fizeram com muito mais propriedade.

São muitos Américos: o intelectual, o político, o municipalista, o socialista, o idealista, o boêmio, o amigo, o humanista ..., dentre tantos.

Resolvi então escrever sobre as lembranças que tenho quando ele, como vice prefeito e a Maria Luiza Fontenele como prefeita, governaram Fortaleza, no período de 1986 à 1988.

Conheci o Dr. Américo bem antes dessa data, dado minha amizade com suas filhas, Laisinha e Vólia, mas nesse período nossa convivência foi mais intensa, pois ele e o Chico Guedes me convidaram para ser Diretora do Departamento de Fomento e Abastecimento da Prefeitura de Fortaleza.

Lembro que logo no inicio da Administração, houve uma forte pressão por parte da Associação dos Agrônomos pelo fato de eu ser arquiteta. Eles prepararam uma reunião para exigir do Dr. Américo a minha demissão. O Dr. Américo fez um discurso belíssimo derrubando todos os argumentos apresentados e com toda a altivez, própria dos corajosos, que estão com a verdade, informou que não me demitiria, e que, confiança se tem, não se impõe. Calou a todos. Realmente ele tinha muita consideração e grande confiança em mim. Fui nesse sentido uma pessoa privilegiada!

Depois desse episodio começamos a fazer um planejamento para o Departamento, que estava parado, sem projetos e sem função definida, Chamamos então todos os agronomos para conversar e o Dr. Américo expos suas ideias quanto aos Projetos que a nova Administração poderia implementar. Discutimos principalmente os projetos voltados para o desenvolvimento das comunidades carentes, visando à melhoria da renda da população de Fortaleza. Os agrônomos ficaram muito entusiasmados com aquelas ideias e passaram a trabalhar para desenvolver alguns dos projetos propostos e tiveram um importante papel na sua execução.

Desenvolvemos e implantamos vários deles: Cabra Bom, Peixe Gordo, Horta Viva, dentre outros, com resultados muito positivos. O Dr. Américo explicava os projetos para as comunidades. Ele sabia conversar com as pessoas mais simples, as compreendia e se fazia compreender. Ao ouvir o Dr. Américo, nos ficávamos maravilhados, vislumbrando tantas possibilidades. Ele tinha muitas idéias e um grande conhecimento sobre o tema.

Discutimos muito também sobre como fazer uma administração onde a população tivesse realmente uma participação, e onde a parceria pudesse ser desenvolvida.

O Dr. Américo estava muito a frente do seu tempo. Com suas idéias, para uma gestão democrática e seus ideais para um mundo melhor. Aprendi com ele um pouco sobre a importância do Movimento Municipalista, e sobre o valor da democracia. Ele era um verdadeiro democrata.

Nessa época, participei muito também do Convívio familiar do Dr. Américo e da D. Laís. Em sua casa, os domingos eram uma festa ! Todos os filhos e netos iam almoçar com eles. Fazia-se uma grande roda na varanda, todos comendo e bebendo antes do almoço e conversando muito. Discutia-se tudo: política, música, e os mais diversos assuntos.

A figura central era do Dr. Américo. Anfitrião inigualável, mesa farta, conversador nato, um bom ouvinte, recebia todos em sua casa com alegria, e nessas ocasiões, ele, um orador brilhante, sempre nos falava de suas idéias e projetos, transmitindo seus conhecimentos com clareza e de forma didática. As horas corriam muito rápido.

As vezes quando eu chegava mais cedo, entrava pelo gabinete e sempre o encontrava com uma lupa lendo ou escrevendo. Ele também gostava de ouvir musica , tendo uma predileção pela musica Viagem do João de Aquino e Paulo Cezar Pinheiro. Sempre que escuto essa musica lembro dele. Quando certa vez levei umas musicas gravadas pelo Fagner para a Laisinha ouvir , ele chegou perto de mim na sala e me disse qual a musica que ele tinha gostado mais. Não lembro o nome , mas sei que falava de uma saia de mulher que se arrastava na areia..

Lembro de muitos políticos que por lá apareciam solicitando sua opinião, sua ajuda. Não eram só os políticos de esquerda, mas de partidos diversos. O Dr. Américo, homem integro e tolerante, a todos recebia com respeito e disposto a ajudar.

Nessas rodas de conversa em sua casa, me marcou uma frase sua: “velho é quem não tem compromisso com o futuro”. O Dr. Américo era muito jovem, e nos deixou cedo demais! Não só sua família ficou órfã. Órfão também, ficaram seus amigos e admiradores como eu.

Deixo aqui meu abraço para D. Laís e todos os seus filhos e agradeço pela oportunidade que me foi dada, de poder homenagear esse grande homem, digno de todas as honrarias.

Saudades...

Um comentário:

Vólia disse...

Parabéns Lana pelo belo e sensível artigo. Meu pai, cujo centenário comemoramos neste ano é exatamente essa figura descrita por você. Em nome dos "Barreira" agradeço sua homenagem.
Vólia.