Rogério Lama |
Depois de ler umas postagens feicebuquianas do Bruno e do Mateus (ambos Perdigão), lembrei de um "causo" que aconteceu comigo faz mais de 10 anos.
Era uma apresentação da Orquestra Eleazar de Carvalho no Teatro José de Alencar. O Maestro Márcio Landi tinha convidado o Maestro Orlando Leite para reger o grupo.
Fiz alguns convites a amigos e nada. Das duas uma: meus amigos fingem que gostam de música ou eu não sou boa companhia. Pior que isso, pode ser que eles finjam que eu seja boa companhia. Melhor não pensar nisso. Plano de saúde não cobre psicólogo. Humpf... como se eu tivesse plano...
A verdade é que segui para mais um show.
Com uma hora de antecedência já estava na porta. Peguei o programa na recepção e passei a folheá-lo, naquele espaço que há entre o foyer e a sala principal. Por ser um concerto no meio da semana, até que tinha bastante gente. Pouco tempo depois, se aproximou devagar um rapaz segurando sob o braço uma surrada valise de couro sem a alça e folheando o programa do espetáculo. Passava as páginas intercalando o gesto de segurar o queixo com a arrumação da valise sob o braço.
Maestro Orlando Leite |
Depois de pigarrear um pouco e ajustar as calças, disse:
- Desculpe, amigo. Conhece esses compositores? - disse, abrindo o programa na minha cara.
- Depende do que você considere conhecer – respondi meio que no susto.
- Digo assim, você sabe de onde eles são, quais estão vivos... essas coisas.
- Desculpe, amigo. Conhece esses compositores? - disse, abrindo o programa na minha cara.
- Depende do que você considere conhecer – respondi meio que no susto.
- Digo assim, você sabe de onde eles são, quais estão vivos... essas coisas.
Dei uma revista rápida, sem tempo de estranhar a pergunta, e sentenciei:
- Só tem gente morta ai.
- Então Mozart morreu... - numa entonação difícil de definir se era uma pergunta ou uma afirmação consternada.
E emendou com um:
- Faz tempo?
- Mais de 200 anos.
- Tá... e brasileiros? Tem brasileiros nessa lista?
- Tem esses aqui, ó: Villa Lobos e Radamés Gnatalli.
- E esses também morreram tem muito tempo?
- Olha, o Villa se foi na década de 50. Já o Radamés, eu não sei ao certo, mas tenho disco dele gravado na década de 80.
Ouvindo isso, tirou uma caneta da valise e circulou o nome dos brasileiros no programa. Mordeu a tampa da caneta por um tempo e apontou:
- E esse Liduíno Pitombeira?
- Esse ai é um cearense, tá vivinho, mas não compôs nenhuma das peças. Ele arranjou uma delas.
Franziu a testa quando falei "arranjou", mordeu mais um pouco a tampa da caneta e riscou o nome do russano da sua misteriosa lista.
Nesse momento eu já queimava de curiosidade com aquelas perguntas descabidas, mas era incapaz de perguntar a razão delas.
Franziu a testa quando falei "arranjou", mordeu mais um pouco a tampa da caneta e riscou o nome do russano da sua misteriosa lista.
Nesse momento eu já queimava de curiosidade com aquelas perguntas descabidas, mas era incapaz de perguntar a razão delas.
Em silêncio, remexeu papéis na valise e perguntou sem me olhar:
- Conhece o ECAD?
- Sei o que o ECAD faz.
- Pois é. Trabalho lá e vim inspecionar essa apresentação.
- Como assim? Veio cobrar direito autoral por uma apresentação gratuita?
- Isso! Mas no programa só tem a galera das antigas. Menos esse Radamés, que é mais novo, né?
- E como você vai fazer pra taxar a música do Radamés e isentar a música do Mozart?
- Não sei! Meu negócio é medir restaurantes com uma trena e preencher esse documento aqui, ó! - tirou um papel de dentro da maleta que mais parecia um escritório portátil - Nem precisa ter seresta, basta uma caixa de som!
- E quem você vai autuar? O Governo? A Orquestra? O Teatro? Ou seremos nós, que vamos assistir ao concerto?
- Essa orquestra é do governo?
- Quem trabalha no ECAD é você!
- Hmm... quem paga é a casa – disse hesitante.
Toca a sirene avisando que faltam poucos minutos para o começo da apresentação.
- Conhece o ECAD?
- Sei o que o ECAD faz.
- Pois é. Trabalho lá e vim inspecionar essa apresentação.
- Como assim? Veio cobrar direito autoral por uma apresentação gratuita?
- Isso! Mas no programa só tem a galera das antigas. Menos esse Radamés, que é mais novo, né?
- E como você vai fazer pra taxar a música do Radamés e isentar a música do Mozart?
- Não sei! Meu negócio é medir restaurantes com uma trena e preencher esse documento aqui, ó! - tirou um papel de dentro da maleta que mais parecia um escritório portátil - Nem precisa ter seresta, basta uma caixa de som!
- E quem você vai autuar? O Governo? A Orquestra? O Teatro? Ou seremos nós, que vamos assistir ao concerto?
- Essa orquestra é do governo?
- Quem trabalha no ECAD é você!
- Hmm... quem paga é a casa – disse hesitante.
Toca a sirene avisando que faltam poucos minutos para o começo da apresentação.
Então disse:
- Vou entrar pra pegar um lugar bacana. Até mais.
- Obrigado pela ajuda, viu?
Acenou e seguiu curvo e desajeitado o agrimensor das artes e sua maleta atulhada da insensatez.
- Vou entrar pra pegar um lugar bacana. Até mais.
- Obrigado pela ajuda, viu?
Acenou e seguiu curvo e desajeitado o agrimensor das artes e sua maleta atulhada da insensatez.
4 comentários:
Caramba, que bizarro, Rogério! Esse é o nível do ECAD...
Os caras cobraram do Macalé qdo este tocou Vapor Barato (do Zeca Baleiro) AHUEHUAHIEE
Os caras não sabem de nada... instituição que precisa de uma intervenção ou ser extinta
Pois é, Bruno!
O pior foi que eu ingenuamente contribui com o trabalho daquele escroto!
Abraço!
Lama
Pois é, Bruno!
O pior é que eu ingenuamente contribui com o trabalho daquele escroto!
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