Por Felipe Araújo
Peço ao distinto leitor que, por alguns instantes, se imagine um músico profissional. Você tem um show agendado no principal equipamento de cultura do Estado, no caso o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. A apresentação é resultado da aprovação de um projeto que você submeteu a um edital público. Pela importância do equipamento e pela responsabilidade que você, como cidadão, tem em relação ao dinheiro público, sua decisão foi preparar o melhor de seu trabalho.
Para isso, teve de ensaiar com sua banda, digamos, três vezes. Três sessões de duas horas num estúdio mediano em Fortaleza não saem por menos de R$ 150. O frete (ida e volta) dos equipamentos para o ensaio lhe custou algo em torno de R$ 100 (isso porque o dono do frete é amigo seu e lhe quebrou um galho). No dia da apresentação, sua corrida de táxi até Dragão fica em R$ 25 (você, afinal, não mora tão longe do equipamento). Ida e volta, lá se vão R$ 50. Os dois músicos que lhe acompanham são amigos de infância e tocarão por módicos R$ 100, cada um (R$ 200 ao todo). Pronto, sua despesa foi de R$ 500 para preparar sua apresentação.
Pois bem, qual não é sua surpresa ao notar que, ao receber seu cachê, você gastou mais do que recebeu. Isso mesmo - e agora já não estamos mais no campo da fantasia. O edital do programa Sons do Ceará, produzido pelo Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC) para o ano de 2013 prevê (inacreditáveis) R$ 500 de cachê - valor bruto, do qual serão abatidos os impostos devidos - para cada projeto selecionado.
Deixo, portanto, a cargo da inteligência e da sensibilidade do leitor a avaliação sobre quão desrespeitoso para com uma categoria profissional é o edital do Dragão do Mar. E também sobre como é difícil viver de arte no Ceará. Ainda que se fale em viradas culturais, em cadeias produtivas, em formação e outros solipsismos da Secretaria de Cultura do Estado.
Em tempo: o edital pode ser acessado no seguinte endereço: bit.ly/UlGg44
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