via Bruno Perdigão
O grupo Roupa Nova gravou, em 2007, um CD com músicas natalinas, chamado "Natal todo dia". O repertório é um horror, estruturado, sobretudo, em versões para o português de músicas norte-americanas. O argumento utilizado para esse predomínio de canções estrangeiras é a ausência de uma tradição de músicas natalinas brasileiras. O produtor Max Pierre declarou ao jornal O Globo, à época do lançamento, o seguinte: "Na semana passada fui a Gramado e fiquei ouvindo aquelas músicas em inglês, lamentando não termos canções em português para sonorizar a festa". A cantora Simone, que gravou um repertório parecido num disco de 1995, também afirma que a ausência de canções brasileiras de Natal a levou a privilegiar canções norte-americanas e inglesas. Para este Natal de 2013, artistas sertanejos, pagodeiros, cantoras baianas e o conjunto da Galinha Pintadinha gravaram o cd e DVD “Natal em Família”.
É assustador.
A ladainha é a mesma. No meio de uma ou outra canção brasileira, sobram versões de canções em inglês. Quero apenas dizer que esse argumento do Roupa Nova, da Simone e do produtor é conversa pra boi dormir. O Brasil tem forte tradição de músicas natalinas.
Basta lembrar dos pastoris, cheganças, marujadas, bois-de-calemba, fandangos, lapinhas, congadas e folias de Santos Reis. Ou será que esses caras (trabalham com cultura) não sabem que todas as manifestações culturais que citei - existem outras - fazem parte do ciclo natalino? Os que dizem isso, enfim, ou são ignorantes ou fazem o jogo dos que apostam na uniformização de padrões culturais, conhecimentos e técnicas. Querem que fiquemos ouvindo aqueles troços tristes, desagradáveis, uns "White Christmas" deprimentes que funcionam melhor como trilha sonora de suicídio.
Eu sou de farrear em fandangos, brincar em cordões, louvar os reis do Oriente e gostar das moças do Cordão Encarnado. Que fique registrada, pois, a minha bronca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário