Foto Iana Soares |
Na noite de uma sexta-feira, a frequência dos bares não desmente a assertiva. No Pitombeiras, na rua que leva o nome do grande poeta romântico Juvenal Galeno, no quarteirão entre a Senador Pompeu e a Marechal Deodoro, estudantes universitários e secundaristas lotam as dezenas de mesas. Toda sexta-feira o burburinho se repete. Não por acaso, surgiu o Goiabeiras bem ao lado.
O Cantinho Acadêmico, no cruzamento da Avenida 13 de Maio com a rua Waldery Uchoa, está igualmente apinhado. Descendo a Waldery Uchoa, um quarteirão antes de outro bar, o Feitosa, a impressão é de que algum acidente aconteceu por ali. Pessoas no meio da rua praticamente fecham a passagem. Uma viatura do Ronda contempla o cenário.
Segue-se o périplo, dobrando na rua Adolfo Herbster, mais um quarteirão, até o cruzamento com a rua João Gentil, está o Assis, bar acolhedor. Quem passa em frente hoje pode ver a massa de ar compactada sobre as cabeças dos frequentadores – é a condensação de pequenas conversas ricocheteando nas paredes do bar. Às quintas, é nele que se encontram alguns escritores locais.
“A turma da gente se reúne geralmente no Assis. É uma turma muito grande, que a se reúne, conversa e bebe, bota as fofocas em dia É o Clube Social da Intelectualidade mais pobre, porque o escritor rico vai pro Ideal (Clube), o escritor classe média baixa vem pra cá”, brinca Pedro Salgueiro, escritor e cronista do O POVO.
Subindo a João Gentil, o caminho leva ao Chaguinha, o mais antigo do bairro em atividade, que toda sexta recebe sem falta uma roda de samba, ou melhor, a seresta, dedicado aos clássicos do samba-canção brasileiro. O bar pequeno já está lotado, obviamente. Mas ainda pode-se tentar o Bar do Marcão, o Buraco da Lúcia, o Bar do Manelzinho, o Bar do Nonato, sem falar nas mercearias que viram pouso de boêmios ao cair da noite. Cada qual com seu perfil. Bares como o do Manelzinho, por exemplo, na rua Paulino Rocha, quase esquina com João Gentil, respiram futebol. “Para você conversar sobre futebol, para você mexer com alguém, brincar, é o bar do Manel. Você pode até conseguir conversar outros assuntos lá, mas é meio difícil. A televisão é direto ligada em algum jogo”, fala Cristiano Santos, 63.
Cristiano nasceu e foi criado no Benfica. Bom de bola na juventude, viveu a época em que o bairro abrigava a sede de times como o Gentilândia, Maguari, Nacional e Fortaleza. Depois de uma temporada fora do Ceará, em cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Teresina, foi para lá que ele voltou no final da década de 1980. Hoje, o corretor de imóveis é um freqüentador assíduo dos bares da vizinhança. “Eu deixei de beber, mas eu continuo fazendo uma Via Sacra”, revela.
Para o bem ou para o mal, Cristiano é absoluto em uma certeza: “Do Benfica, eu só saio para ser enterrado em algum lugar. Nós temos um amor por esse bairro aqui que a gente não sabe explicar”. E conta: “Quando eu morei no Rio de Janeiro, eu tive uns amigos na época de solteiro, que todos os anos organizam umas excursões pra Argentina, Uruguai, Chile... Eu sempre me preparava pra ir, mas preferia a Gentilândia”, diz.
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