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Vejam vocês uma coisa (conversei dia desses, acho que foi com Fernando Borgonovi, sobre este assunto). Vem chegando aí o Carnaval – duas semanas pra ser mais preciso (do início ao fim, como sempre). E eu, aos poucos, ainda que eu saiba que na hora agá nada pode sair como o planejado, vou tecendo os meus planos para o tríduo momesco (e é assim, ano após ano).
Já sei, por exemplo, que no sábado de Carnaval, depois de uma manhã exaustiva – é quando sai o Cordão da Bola Preta, ápice da festa, e o simples fato de ser, o ápice, no primeiro dia, dá bem a dimensão da inversão que o Carnaval representa – vou precisar de um descanso em casa. Às três da manhã da madrugada de domingo desfilo no Império Serrano, convidado que fui por Rodrigo Pian (e por toda a “corte imperial”, segundo ele).
Como vou ao Sambódromo pela primeira vez para assistir ao desfile do Grupo Especial no domingo e na segunda-feira, isso pode (pode!) significar que não irei ao Cordão do Boitatá, na Praça XV. O que, de certa forma, me alivia (vou explicar, e foi sobre isso que conversei com o Borgonovi).
Nunca fui muito com o Cordão do Boitatá (mentira: no primeiro ano em que saiu, até que foi divertido; mentira de novo… divertido sempre é… vou tentar ser mais claro, acompanhem).
O Cordão do Boitatá, de muitos anos pra cá, faz lá seu baile na Praça XV. Sai, antes, entretanto (ou saía, não sei), desfilando pelas velhas ruas do velho Centro, escondido sob o argumento de que muita gente atrapalha. Sempre impliquei com esse troço (mas não é o que mais me incomoda). Vou ser mais claro, mais direto.
Quando vejo o Cordão do Boitatá na Praça XV eu penso, de mim para mim:
- Aí está a PUC sem os pilotis.
O Cordão do Boitatá – que não por acaso é o bloco que anima (anima!) os festejos do PSOL – é um bloco animado, é diversão na certa, é o que talvez reúna mais gente fantasiada… mas é o bloco anti-povo.
Farei a pergunta que gostaria que todos vocês, meus poucos mas fiéis leitores que lá já estiveram (e abusem, se quiserem, da caixa de comentários para suas respostas), respondessem: quantos crioulos – e refiro-me aos crioulões que brilham, que reluzem, aos desdentados, aos desvalidos, aos de povo! – você já viu, ali, sambando com os pés pisando nas pedras pisadas do cais? Eu mesmo respondo: nenhum.
O que há, durante o baile do Cordão do Boitatá, é mesmo um desfile de estudantes da PUC. Talvez não tenha sido o objetivo de seus criadores (não é, meu texto, uma acusação nesse sentido). Mas é o que se verifica, sem muita dificuldade.
Vou sempre (fui sempre) porque lá encontro inúmeros amigos, e porque afinal – como já lhes disse – fazem um bom baile os meninos e as meninas do Cordão do Boitatá. Mas sempre, sempre!, me assombra a ausência profunda do homem do povo. Não estão lá os pais-de-santo, não estão lá os paus-de-arara, não estão lá as passistas, não estão lá os flagelados, não estão lá os pingentes, não estão lá as balconistas (apud Aldir Blanc).
Dirão alguns que estou exagerando, o que repilo desde já.
E outra: uma pesquisa, simples, no Google, mostra que o que mais se fala a respeito do Cordão do Boitatá é que tem “muita gente bonita”, frase batida usada sempre pra definir coisas absolutamente intragáveis (o que não é, quero repetir, o caso deles).
- Algum problema nisso, na ausência dos crioulões? – perguntarão alguns.
- Não! – eu direi.
Não mesmo. Mas era o que eu queria lhes dizer.
Até.
http://butecodoedu.wordpress.com/2012/02/03/a-ausencia-do-crioulo/
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