O quarteto de violões Maogani me impressionou desde a primeira vez que eu os ouvi tocando uma música dos Beatles. Desde então fiquei apaixonado por eles, amor à primeira escuta. Foi com muita excitação e com muito prazer que eu soube que eles aceitaram o convite para participar de três faixas do nosso disco de boleros. Evidentemente, ficou maravilhoso.
E é o Maogani que toca na faixa que abre o disco, SABE DEUS, de Álvaro Carrilho com versão de Caetano Veloso. O arranjo do Paulo Aragão, escrito sob medida pro meu arranjo vocal, é muito gostoso. Tem a sonoridade que só essa soma de violões que vai do 7 cordas até o violão requinto pode oferecer pros ouvidos da gente. Os solos de Marcos Alves no violão de 6 cordas e de Maurício Marques no violão requinto são muito bonitos e completam a versão belíssima de Caetano Veloso. Guello fez aquilo que todo bom percussionista faz: vestiu e calçou com elegância o arranjo de Paulo Aragão.
A sonoridade de ondas do mar criada por Guello, serve de base para a introdução feita pelo Duofel para "La Barca", de Roberto Cantoral, que, na versão de Carlos Rennó, se chamou A BARCA. O Duofel tocou em 3 faixas desse disco. Foi nosso primeiro convidado para esse projeto, e com eles trabalhamos de forma diferente dos outros que tocaram no CD. Os arranjos instrumentais foram feitos primeiro por Fernando e Luiz e, sobre eles, eu criei os arranjos vocais. Eu chamo a atenção para os solos deles no intermezzo da música.
Vitor Ramil se decidiu por um belo bolero de César Portilho de La Luz,CONTIGO NA DISTÂNCIA, para fazer sua versão. O Trio Madeira Brasil aparece, em sua primeira participação no disco, com um bonito arranjo de José Paulo Becker, onde podemos ouvir o solo lindíssimo do Ronaldo no bandolim.
Miltinho escolheu, para fazer a versão e o arranjo, o belíssimo bolero de Armando Manzanero, CONTIGO APRENDI. O arranjo de base ficou a cargo do inimitável Toninho Horta – uma base criada com dois violões, ele com ele mesmo, é claro. A bonita harmonia do Miltinho, uma introdução bolerística muito bonita também e um intermezzo muito bem criado, somados à sensível percussão de Guello, contribuem para enriquecer o bolero de Manzanero, título ao disco.
QUIÇÁ, QUIÇÁ, QUIÇÁ, eis aí um “sacudido” chá-chá-chá! A versão da música do cubano Oswaldo Ferrez foi feita pelo querido poeta Hermínio Belo de Carvalho. A cozinha criada por Guelo é simplesmente irresistível: tem que dançar! O arranjo foi o último a ser gravado para o disco. A base do Trio Madeira Brasil, num arranjo instrumental do José Paulo Becker, também participa do balanço. Prestem atenção nas intervenções, principalmente de Ronaldo no bandolim, na dobra do andamento, criada pelo tremendo percussionista Guelo e no final também inusitado.
Agustin Lara escreveu “Solamente uma vez”, que na versão de Fernando Brant recebeu o título EU AMEI UMA VEZ. Um bolero com uma bela versão e uma curiosidade: é só ouvir o arranjo vocal que você vai perceber que ele não é meu nem é do Miltinho... E de quem é, então? É de um ídolo nosso, Carlos Vianna. Ele foi arranjador de um grupo vocal dos anos 1960, que nós do MPB4 admirávamos muito, O Quarteto. Quis o acaso e a sorte que eu reencontrasse esse amigo aqui em São Paulo e, mais ainda, que ele aceitasse o convite para fazer dois arranjos para esse disco de boleros. Um belo arranjo. Note-se a harmonia diferenciada de Carlos Vianna, a leveza da percussão de Guelo e, como não podia deixar de ser, Toninho Horta brilhando mais uma vez com seus dois violões.
O arranjo do gaúcho Maurício Marques, um dos Maogani, para TU ME ACOSTUMASTE (Frank Domingues), numa versão de Abel Silva, ficou bem interessante. Ele explorou as nuances de um conjunto de choro com o Maogani, usando desde o violão requinto, a guisa de bandolim, até o violão de 7 cordas de Paulo Aragão. Mais um arranjo feito sobre um arranjo vocal meu, com a percussão de apoio do Guelo. Eu chamo a atenção, neste bolero, para dois detalhes: uma modulação inesperada no intermezzo e um final, também inesperado, com baixa de meio tom no último acorde.
SABOR EM MIM, um bolero de Álvaro Carrilho, com versão do poeta José Carlos Costa Neto, foi o primeiro dos boleros gravados para o disco. O primeiro arranjo feito pelo Duofel serviu de base para o meu arranjo vocal, no qual usei a introdução criada por eles, e repetida no intermezzo, para que as vozes dobrassem os violões.
O clássico bolero de Maria Tereza Lara, NOITES DE RONDA, recebeu uma bonita versão de Paulo César Pinheiro e Paulo Frederico. O tratamento instrumental dado pelo arranjo de Paulo Chaves para o meu arranjo vocal foi sob medida, ou seja, ele pegou a idéia de uma introdução de tango e aí, note-se, criou um belo crescendo, num cânone preparatório para início do bolero, feito em conjunto pelo MPB4 e pelo Quarteto Maogani. Ressalte-se também, na volta do intermezzo, o belo acompanhamento das cordas em surdina.
Carlos Vianna, novamente criando mais um belo arranjo, desta vez para MULHER (“Perfídia”, de Alberto Dominguez), com versão para o português feita por Carlos Colla. Além do belo arranjo de Carlos Vianna, prestem atenção no intermezzo, e... viaje até a Espanha, com o auxílio das castanholas e do cajon de Guello e do clima criado, mais uma vez, pelo grande Toninho Horta.
A moringa usada pelo percussionista Guello para RELÓGIO, de Roberto Cantoral, numa belíssima versão de Celso Viáfora é quase um contrabaixo dando a base para o arranjo, também do Duofel. A destacar o belo solo e as harmonias inusitadas que Fernando e Luiz criaram para este bolero. Eu chamo a atenção para a volta ao tema, cantado à capella.
Magro Waghabi, maio de 2012
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