Acordei com uma ideia fixa: hoje é dia de votar! Só que não pra mim, temporariamente expatriado... Será que eu estaria empolgado assim no Brasil ou meu civismo aumentou só porque não posso votar mesmo? Idem no segundo turno, porque estarei ainda morando na Filadélfia, para onde mudei há cerca de um mês. Até julho do próximo ano ficarei pesquisando e estudando na Universidade da Pensilvânia. Neste período, serei o correspondente exclusivo e gratuito do Diumtudo para assuntos da América do Norte, ideia também exclusiva e gratuita do meu amigo Marvioli. Enviarei relatos de quando em vez – uma espécie de Jorge Não Muito Pontual – sobre diferentes assuntos, por exemplo...... hum... sei lá, depois a gente vê.
Posso começar pelas impressões iniciais do lugar? Posso. A Filadélfia combina ares de metrópole multiétnica moderna, cheia de imigrantes e universitários dos mais variados rincões – principalmente se os rincões forem da China – com os de cidade pequena e antiga, orgulhosa de ser o berço da república, ninho da águia americana.
O núcleo urbano é menor do que Fortaleza, mas a região metropolitana é bem grande e rica. Para quem mora no centro da cidade, como eu, é fácil andar a pé; o trânsito não é tão ruim quanto nas nossas metrópoles e o transporte coletivo é bastante bom (ressalva: ainda não andei na periferia).
Claro, também não faltam problemas. Pra começar, o povo daqui carece de uma boa reforma ortográfica. Eles ainda escrevem farmácia com PH e o nome da cidade tem dois PHs! Inaceitável para quem tanto preza a eficiência. No mais, diz-se que o melhor de Philly é mesmo ser perto de Nova Iorque, menos de duas horas de ônibus. Exagero. Tem muito o que fazer e ver por aqui, além das locações dos filmes do Rocky Balboa.
Filadélfia, em grego, quer dizer literalmente ‘amor fraternal’, explicou-me a Wikipedia. De fato, as pessoas costumam ser simpáticas (mas também não é esse amor todo!). Depois conto se a simpatia sobreviveu ao frio. Cheguei aqui no verão e agora estamos no Fall (outono), época em começam a cair a temperatura, as folhas e o astral dos moradores.
Voltando ao pleito, aqui também tem eleição – e com a campanha na reta final (taí um bom tema para uma próxima reportagem)! O curioso é que a disputa está acirradíssima, mas todo o embate se dá no mundo virtual da TV e da internet. Os discursos e debates são analisados exaustivamente, em geral sem qualquer pretensão de neutralidade ou isenção.
Por exemplo, o canal MSNBC apoia 100% os Democratas, enquanto a Fox News apoia 100% os Republicanos, sem concessões. Já nas ruas não se vê quase nada, nenhum cartaz, nenhum outdoor (digressão: outdoor aqui não chama outdoor e nem shopping center chama shopping center), raros adesivos, raríssimas camisetas. Também não vejo as pessoas discutindo política em lugares públicos. A única movimentação detectável é a dos voluntários convidando as pessoas a se alistarem para votar.
Não obstante, o mais chocante pra mim, vindo do Brasil, é a ausência completa dos carros de som gritando jingles de Obama ou de Mitt Romney. Que alívio.
Lucas Barros - é cearense e professor universitário em São Paulo.
Um comentário:
Carolina escreveu: "Que coisa boa ter o nosso querido como correspondente exclusivo do Diumtudo! Já aguardo o próximo relato... =)"
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