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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Democracia: curva perigosa à direita

por Sandra Helena de Souza

“Destruir utensílios urbanos e emporcalhar prédios públicos é antissocial. Quebrar porta de banco como “agressão ao capitalismo” é imbecilidade. Mas não é provável que os autores de tais façanhas sejam capazes de perceber que não produziram efeito algum, além da mera destruição. Mas quando voltam a sua cretinice feroz contra alheios indefesos e, ainda pior, já subjugados pela vida, aí essas bestas de cara escondida ou descoberta se tornam revoltantes. Por mim, são indefensáveis. O que quer que lhes aconteça é problema estritamente seu. Nada tem a ver com democracia ou com direitos humanos. Poderiam ser levados para a cadeia ou o hospital metidos em uma caçamba de lixo.”

Aturdida, li esse texto em voz alta numa intervenção durante o excelente seminário promovido pela Justiça Federal do Ceará intitulado Direito de Manifestação: Possibilidades e Limites. Coordenado pelo juiz federal Leonardo Martins, diretor do Foro, o original encontro reuniu em dia inteiro filósofos, juristas, manifestantes, ativistas e trabalhadores da segurança pública, policiais militares e civis, o coronel PM diretor-geral da AESP, o então delegado-geral da Polícia Civil e um procurador da República.

Durante um dia inteiro pudemos refletir, aprender, reviver o clima de conflito das ruas nos momentos mais acalorados dos debates. Uma conclusão se impôs: a discussão sobre o direito de manifestação, na visão dos órgãos de segurança, dos tribunais, dos manifestantes, longe de significar entrave, nos coloca no mesmo patamar das democracias mais consolidadas do mundo. A discussão, apenas ela, bem-entendido.

A julgar pela cobertura da grande mídia sobre os desdobramentos das pontuais manifestações que continuam nas ruas, enfrentamos uma situação de encruzilhada: recrudescem cenas de violência e arbítrio, por parte dos órgãos de segurança do Estado, mas também por parte de movimentos de ativistas que afirmam o direito de resistir, e também agir, com violência nas reivindicações. O secretário da Segurança do Rio de Janeiro, José Beltrame, sexta última em Fortaleza, falou da ‘surpresa’ da polícia carioca com a disposição e preparo dos manifestantes para suportar a ação policial, mas também encurralar as forças do Estado.

O modo como o mundialmente conhecido Black Bloc incorporou-se ao levante brasileiro tornou ainda mais visível a já cotidiana violência policial na sociedade, mas também trouxe à superfície a intolerância proto-fascista de vastos setores da sociedade, mesmo entre as esquerdas. Por outro lado, os jovens mascarados demonstram pouca capacidade de sair do isolamento em que se meteram na disputa simbólico-política, e erram tremendamente ao ‘brincar de ditadura’, demonstrando ignorância indesculpável sobre a história de seu próprio país.

O texto lido por mim foi aplaudido com entusiasmo por parte da plateia. Eu esperava vaias. Janio de Freitas (sim, o autor) lhe representa nessa matéria? Imagina na Copa.
Maus sinais.

http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2013/10/02/noticiasjornalopiniao,3139515/democracia-curva-perigosa-a-direita.shtml

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