Para quem não conhece ou não se lembra, um dos nomes mais irreverentes e polêmicos da música brasileira está de volta ao Brasil: o camaleônico Edy Star. Com 73 anos, quase vinte deles vivendo em Madri, na Espanha, o cantor, ator e artista plástico baiano foi redescoberto após participar por três anos seguidos da Virada Cultural, em São Paulo. Suas performances renderam novos convites e o mais importante deles: relançar o único e cultuado LP solo Sweet Edy (1974), que chega ao mercado em CD no final deste mês pelo selo Joia Moderna. “Agora que consegui anuência da antiga gravadora, chegou o convite do DJ Zé Pedro. Quero um CD melhorado, com encarte de nível e apresentado por Rodrigo Faour, Caetano e Sérgio Cabral”, comemora Edy.
O álbum relançado traz as músicas originais do disco, que teve composições de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, entre outros, feitas especialmente para o intérprete baiano.
Vale lembrar que o senhor estrelar começou a carreira no final da década de 1960 e ele é o mesmo Edy (ainda sem o Star no sobrenome) que participou do também cultuado álbum Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta sessão das 10 (1971) ao lado do amigo Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada. A participação veio de um convite do próprio Raul, que o chamava de Bofélia. Aliás, Edy Star é tido como o primeiro artista do glam rock do Brasil e também pioneiro em assumir sua homossexualidade para o público. “Aos fãs de Raul sou agradecido, pois é graças a eles que estou aqui divulgando o trabalho do mestre, através dos shows da Virada Cultural, em teatros, nos festivais de rock pelo país. Fiz amigos, todos carinhosos. Claro que tem os fanáticos, alguns chatíssimos. Mas tenho que ser paciente e diplomata; afinal de contas, em São Paulo, Raul é uma religião ecumênica num movimento único no país”, brinca ao contar a relação com os fãs órfãos do maluco beleza.
Outra artista importante na carreira de Edy é a maluquete Maria Alcina, que o descobriu, no início da década de 1970, fazendo pequenos showsem cabarés da Cinelândia, no Rio de Janeiro, e o levou para ser a principal estrela da badalada casa de shows Number One. “Edy Star me encanta. Ele é muito culto. Uma vida inteira muito forte. Fizemos o show Salve o Prazer, com músicas de Assis Valente, na última Virada Cultural, e foi genial. Adoro estar com ele. Ele me desmonta. Me faz lembrar de outros lados meus. É uma pessoa muito solar, tem uma alegria muito verdadeira, somos como irmãos. Uma amizade para o resto da vida”, inflama-se Alcina.
Quem também não economiza rasgação de seda para o cantor é o produtor musical e jornalista Rodrigo Faour: “Edy Star criou um estilo de existir e de ser artista. É um provocador inato. Jamais se curvou ao politicamente correto – seja na vida pessoal ou na artística. Tem uma pequena obra, apenas um interessante álbum solo, que tive a honra de fazer a ponte para que fosse reeditado agora, mas é acima de tudo um grande showman e merece ser mais conhecido. Numa época de artistas fake, de imitações e gente sem ter o que dizer, Edy é precioso. Um sobrevivente dos ideais dos anos 70, um tempo de ideologias, opiniões inflamadas, em que a nossa música era um tanto teatral.”
Para quem quiser (re)descobrir o trabalho de Edy Star, ele avisa que pretende ficar de vez no Brasil. Ao ser questionado sobre ser cultuado nesse seu retorno, o próprio brinca com a irreverência que lhe é característica: “Eu, um ícone cult? Aqui nas terras tupiniquins? Que os deuses me livrem dessa má honra! Sou apenas uma velha menina baiana, com o jeito que dizem que um deus me deu. E eu adoro caminhar pela cidade, andar de metrô, tomar cerveja com amigos e jogar conversa fora... Eu precisaria estar mais na mídia ou usar chapéu como a Greta Garbo e dizer: ‘leave me alone’ ou ‘let me entertain you, baby...’”
3 comentários:
Excelente disco...finalmente reconhecido
Porrra, de onde tu desenterra esses tipos?
Os dois discos de Edy Star são clássicos. Não desenterrei ninguém. O artista tá vivo.
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