Por Fausto Nilo
Há milênios os homens têm vida e memória compartilhadas e constroem lugares para compartilhar vida e memória. A intensidade e a eficiência das trocas ensejadas por essa matriz de intercâmbio dependem dos graus de proximidade, sinergia e conectividades entre suas estruturas físicas, devidamente combinadas com a base natural e a variedade de contatos. São essas estruturas e as demandas de movimentação para conectá-las que, uma vez construídas, expressam materialmente o desenvolvimento urbano.
Com a mudança de escala das pequenas cidades para metrópoles esse desenvolvimento passou a exceder a capacidade da base natural em suportá-lo. A intensificação da industrialização no século XX, a crescente motorização, o incremento da população, as migrações, a incontrolável tendência às urbanizações e a concentração de impactos nas metrópoles desenharam a nova realidade ambiental do planeta.
Foi por essa razão que, em 1987, a Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, liderada pela primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland, atendeu à solicitação da Organização das Nações Unidas (ONU) e publicou o documento Nosso futuro comum. É aí que aparece, pela primeira vez, o termo “sustentabilidade”, definido como “respostas às necessidades do presente sem comprometer a oportunidade das futuras gerações para responder às próprias necessidades.”
As cidades, desde sua origem até o início do século XX, podiam ser consideradas como estabelecimentos sustentáveis. Isso porque os insumos indispensáveis ao seu funcionamento, bem como os meios energéticos e as fontes para alimentação de seus habitantes produziam resíduos e efeitos em tal escala que o próprio meio ambiente estava capacitado a assimilar.
Infelizmente, algumas cidades brasileiras, hoje, com escala de metrópole insistem em não acreditar na urgência em adotar procedimentos sustentáveis. Pelo contrário, ainda apostam no crescimento por processos de expansão descontrolada, amparado pela persistência em tratar problemas complexos e sistêmicos por meio de ações fragmentárias e dispersivas.
Nossa realidade metropolitana contemporânea indica urgência na adoção de formas de crescimento urbano compacto com mais prioridade à inserção de estruturas a serem construídas no velho tecido existente que à expansão urbana. Assim, estar-se-á promovendo a reabilitação do espaço público, reconstruindo a vida comunitária, melhorando a acessibilidade, incrementando a segurança, concretizando a proteção da herança cultural edificada e reduzindo a dependência do transporte motorizado. Não há outra forma efetiva de conviver com a força descomunal do processo urbano que nos legou essas cidades infinitas e imersas nas cinzas da desigualdade.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/09/16/noticiaopiniaojornal,2299416/crescimento-urbano-e-sustentabilidade.shtml
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