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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

SP precisa sim `importar´ gente de toda parte

Ontem Gilberto Dimenstein na FSP criticou Haddad por ter nomeado Juca Ferreira, secretário de cultura. (Marvioli)

Por Xico Sá




E haja aspas, preconceituosas ou não, mas SP precisa sim “importar” não apenas um baiano, mas qualquer povo que a fez e que está disposto a uma possível refazenda urbana e moderníssima.

Até porque o movimento agora é de deixar a cidade. O que a torna humanamente mais pobre.

Como diria o rapper Cascão, o inventor do estilo e da expressão “vida loka”, SP não pode perder mais tempo sendo uma cidade fechada ao varejão do preconceito.

Pânico em SP , grande Clemente, salve sempre Inocentes.

Sao Paulo de Piratininga pós-Kassab, o homem das 1001 noites proibidas, carece retomar sua vocação de cidade aberta.

O novo prefeito carece fazer muito, mas sobretudo precisa devolver, no mínimo discutir, a ideia de uma Pauliceia de todos nós brasileiros.

Assim como foram e são as praias cariocas, as incomparáveis grandiosidades nordestinas, assim como são e serão os sertões, montanhas mineiras, pampas, chapadas & recôncavos etc .

Ah, gostei deveras, no meu barroquismo jamais sequestrável, diz aê velho poeta Gregório de Mattos, de ter um baiano como secretário da Cultura da cidade que habito há 22 anos.

Sim, o Juca Ferreira, bom currículo, ex-ministro do mesmo mundo, ex-pós-tudo de Gilberto Gil no Ministério idem da República.

Tem gente torcendo os beiços por aqui. Que mundinho sem horizonte.

Com desculpinhas babacas.

Não, não estou me referindo ao que todo tamarindo dá e muito menos ao colega desta Folha Gilberto Dimenstein. Entendi o questionamento localizado dele. Não foi preconceituoso, só rolou a bola de uma certa classe cultural paulistana insatisfeita e fechadinha. É papel do jornalista contar o que se passa na real-politik.

Como eterno novo “baiano” cearense e pernambucano - família metade de um Estado metade d´outro- fico orgulhoso que seja um soteropolitano o novo cara da secretaria de Cultura do meu município.

Digo: no mínimo não pode ser vetado por ser de tal origem.

Não, nem todo nordestino é baiano, assim como nem todo japonês é coreano e vice-versa.

Um dia, quem sabe, o sudeste aprenderá geografia, como um norte-americano que deixará de confundir Bogotá com Brasília, e saberá, só Deus sabe, separar os gentílicos. Mas isso é café-pequeno, bronca safada.

Enquanto isso, tá valendo, somos todos diferentíssimos nordestinos, cada um com seus Estados de origem, riquezas e prosódias, embora sejamos todos chamados de baianos em SP e paraíbas no Rio de Janeiro.

Nessas horas sempre solto um educado “fodam-se”, mas apenas para os meus boníssimos amigos paulistanos e cariocas que entendem o pugilato e a bossa nova de Juazeiro.

No geral, rimos dos preconceitos babacas, todos juntos, se é que você me entende, e, sábio do Crato que sou (rs), recito o velho Walt Whitman, o cara cuja pátria era apenas a árvore que o encobria naquele instante.

Se o Nordeste continua sendo uma ficção, para retomar um verso genial do Belchior, azar -ou inferno- dos outros. Se meu verso não deu certo, agora vou mineiramente de Drummond, foi seu ouvido que entortou.

SP precisa se livrar da praga de fomentar separações e proibições tão fermentadas quantos os pães branquinhos da Bella Paulista na madruga.

Salve esta lindeza de metrópole escancarada que recebeu japoneses, italianos, brasileiros de todos os nortes, itas e bússolas, judeus, árabes e bolivianos em busca de um bueno retiro possível.

Quantos jovens coreanos e novos africanos agora te habitam. Verás na praça Júlio Mesquista que já foi dos ciganos e agora tem o movimento negro, a cerveja de todos os banzos & blues de Luanda.

Só gritando em portunhol selvagem, poeta Douglas Diegues, para alertar essa gente covarde que não flana e não sabe da soma das ruas.

Que não conhece Esperanza, linda costureira de Cochabamba, Bolívia, que já vendeu seu trabalho escravo nas fabriquetas de costura de San Pablo e agora rifa o seu corpo no desejo crepuscular dos machos que flanam no Parque da Luz.

Como descrevi no meu romance “Caballeros solitários rumo ao sol puente”, quer saber o que é SP, veja uma pelada ao cair da tarde de sábado aos pés da estátua de Duque de Caxias, o facínora da Guerra do Paraguay:

Lá, no chão da praça, jogam latino-americanos X miseráveis brasileiros. Qualquer coisa contra o resto do mundo. Eis o clássico.

Peladas, como diiria o tio Nelson Rodrigues, mais complexas que toda a dramaturgia shakespereana.

Agora, com licença, daqui a uma estação do metrô estarei no Oriente…

SP tem os olhos mais incríveis do planeta, o bisturi de Deus a serviço permanente da mestiçagem, como acabo de ver agora ao descer da São Joaquim com a minha gueixa que nem me ama (ainda) tão direito assim.

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