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O sertão nordestino tem uma rica diversidade de costumes, de riquezas, de personagens, de vida. E nesse universo, uma das demandas maiores é por água para o consumo humano.
No meu trabalho sempre dividindo o tempo entre os projetos, as atividades de representação institucional e a biblioteca, no ano de 2001, aconteceu o meu encontro com o Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido: um milhão de cisternas rurais, por iniciativa da Articulação no Semiárido, cujo objetivo principal é construir uma cisterna de placas em cada casa de família com baixa renda, na zona rural semiárida.
Participei do seu nascimento e por 12 anos vivi sua implantação no sertão cearense. Esse encontro me rendeu intensas vivências que não dá para colocar em poucas palavras. E por ser um trabalho em equipe, isso me fez aprender muito, inclusive sobre mim, sobre meu papel nesse processo de transformação das condições de vida das famílias rurais.
Para levar a cisterna até às famílias, há um percurso em que é preciso localizá-las, cadastrá-las, organizar toda a documentação pedida pelo programa, consultar Cadastro da Pessoa Física, anotar o Número de Identificação Social e caso a pessoa não o tenha, encaminhá-la ao órgão da Prefeitura Municipal para que seja inserida no Cadastro Único do Governo federal.
Preencher a Ficha de Seleção e Cadastramento das Famílias é uma atividade que nos mostra a realidade dessa população através dos seus dados pessoais, nível de escolaridade, composição da família, moradia, fontes de abastecimento de água, situação socioeconômica, participação em grupos sociais, tipos de doença.
Chegamos a visitar mais de duas mil famílias em um ano e a coleta de tantos dados nos torna conhecedores in loco de uma realidade que apresenta também uma face dolorosa: alto grau de analfabetismo, doenças crônicas, pobreza, solidão, violência doméstica, dificuldades de acesso à terra, à água, a serviços básicos.
E como uma bibliotecária se inseriu nesse universo?
No atender ao público de forma satisfatória para o programa e para as famílias, levar orientação, ser atenta no preenchimento dos dados, pois um erro é fonte de problemas para o desenrolar da ação, organizar listas para os cursos das famílias e para a colocação de placas de identificação das cisternas, arquivamento das fichas das famílias por ordem numérica, ter em mãos o Termo de Recebimento da Cisterna para que a pessoa responsável pela cisterna o assine, conferir se o número da cisterna é igual ao do Termo, checar se as fotos de cada família ao lado de sua cisterna estão com qualidade para compor o Termo.
Enfim, um mundo de informações a serem coletadas, trabalhadas, cadastradas e arquivadas. Um universo no qual as bibliotecárias e os bibliotecários se sentem à vontade”.
Um comentário:
Importante informações sobre a logística de implantação deste relevante programa de inclusão social que começou timidamente no Ceará no início da década de 90- a primeira cisterna de placas em Tauá foi construída em 1993 no quintal do STTR - e hoje transformou-se numa política pública.
Parabéns, Malvinha, por ter contribuído com o sucesso desse programa.
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