Editorial do O POVO
As atenções do mundo voltam-se para o drama vivido pelo ex-técnico da CIA, Edward Snowden, confinado na área de trânsito do aeroporto de Moscou, há mais de uma semana. Ele tenta escapar do cerco do governo norte-americano, que quer prendê-lo (e até, possivelmente, condená-lo à morte) por ter revelado a espionagem da Casa Branca contra seus concidadãos e contra os diplomatas e governos da União Europeia, por meio do Google, da Apple e do Facebook.O norte-americano atrai a solidariedade das consciências democráticas e humanitárias, inclusive a Anistia Internacional. Esta classificou a atitude dos EUA como uma violação a um direito humano fundamental – o da busca de asilo por quem se sinta perseguido por motivos políticos ou de consciência, como prescreve a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU.
A perseguição a um defensor dos princípios da Constituição norte-americana, justamente por defendê-los, é um escândalo. O surgimento da internet e das redes sociais expôs cada vez mais as ilegalidades cometidas pelo governo norte-americano, contra seu próprio povo e as leis internacionais. Nos últimos anos, avolumaram-se os registros de espionagens, torturas contra prisioneiros de guerra, prisões clandestinas, assassinatos indiscriminados de líderes políticos e de civis inocentes – num crescendo assustador. Tudo sob a roupagem despudorada da “defesa da democracia”.
As novas gerações não aceitam mais essa hipocrisia. Daí, o porquê de jovens como Snowden preferirem correr riscos tão altos a sufocar a própria consciência. Mesmo ao custo de se tornarem “párias errantes”, dos quais é um perigo se aproximar.
A subserviência com que estados soberanos se curvam ao diktat de Washington - negando asilo a Snowden - é um espetáculo constrangedor. Os governos da França, Portugal, Espanha e Itália, por exemplo, não se acanharam de impedir que o avião do presidente da Bolívia, Evo Morales - proveniente de Moscou –, cruzasse seus espaços aéreos, pela suspeita de que trouxesse o norte-americano a bordo. Foi um ultraje não só a um chefe de estado estrangeiro, mas aos próprios povos dos quais são governantes, além de uma violação flagrante aos protocolos internacionais. Espera-se que o Brasil encontre uma maneira de honrar a tradição diplomática acolhedora da qual sempre foi portador - se for concitado a isso.
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