Por Felipe Araújo
O que chamo de relativismo na cultura é um pensamento que legitima toda e qualquer expressão artística e que, independente dos méritos estéticos ou humanistas dessa arte, ganha status de modelo civilizatório, de parâmetro de construção de identidades e afirmação de diferenças. Tudo em nome de uma suposta dimensão democrática da produção simbólica.
Por mais que me considere um defensor da democracia e da liberdade de expressão, tenho grande desconfiança em relação a esse estado de coisas. Parece-me sempre algo oportunista e cínico - sobretudo no âmbito do poder público, zeloso que deveria ser contra os excessos do vale-tudo estético (e moral).
Oportunista porque se aproveita de um contexto em que há um esvaziamento das instâncias de crítica, com desdobramentos políticos evidentes. Cínico porque, em nome de uma falsa tolerância ou de um suposto “gosto popular”, exerce um poder discricionário em relação ao que é efetivamente diferente. Visibilidade, sabe-se, é moeda em disputa.
Denunciar e questionar esse relativismo não se trata de “moralismo”. Também não se trata de “patrulhamento”. Acontece que, nessa economia da visibilidade – infelizmente tão definidora de “identidades” – não é possível abrir mão da felicidade da beleza, do que nos engrandece. Mais ainda se considerarmos o poder público como instância indutora da cultura em nosso País.
Sinto que precisamos voltar a compreender a cultura como dimensão mais ampla de formação de cidadãos conscientes, críticos e alertas. É preciso entender a arte como expressão de um processo psíquico, histórico e social que efetivamente forma (ou deforma) a cidadania. Todo o resto é relativo.
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