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quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Bar Ideal


Por Rogério Lama 

Sob um olhar minimalista, como seria o bar ideal?
Já se perguntou que essência move a pessoa a sair de casa (ou não voltar pra ela) pra se manter num lugar cheio de desconhecidos, imerso em azulada fumaça de cigarros e investindo seus parcos sono e dinheiro?
Não serei cínico e advogar pelos caseiros. Amo os bares, assim como a maior parte daqueles que se interessaram pelo título do texto e decidiram prosseguir com ele.

Passamos pela vida perseguindo o amor, o emprego... e o bar ideal.

O bar ideal segue uma única premissa: todos têm de se sentir bem. Não é tão simples quanto parece. O bem estar não pode estar restrito ao ébrio falastrão com dedo em riste a pedir e mentir.
O garçom tem de se sentir honrado no sacro exercício de manter aceso o elo entre o freezer e o copo. E tem também que molhar o bico, caso isso lhe fizer bem. Aliás, alguns anseios do ébrio só podem ser decodificados por outro em semelhante status.

O vizinho do bar ideal também tem de querer essa vizinhança. Deve aguardar ansiosamente pelas 19:03:57hs*, que é quando o bar abre as portas. Cantarola, molhando o braço do sofá com o suor do copo, aquele samba que há tempos não se toca.
O dono do bar também tem de se sentir bem. Não por minar o dinheiro dos bêbados. Tem de estar realizado por ser dono de um lugar cheio de gente feliz, que não pensou noutro lugar para estar que não no seu bar. E o dono também tem que beber. Só a leveza da embriaguez permite o orquestrar de tantos fatores que mantêm ideal o bar ideal.

Acontece que, de tanto buscar o bar ideal, foi ele que me encontrou. Entre prédios e ventilado pela brisa de Copacabana numa minúscula rua sem saída, acabei sucumbindo ao alçapão do Bip Bip.

O Bip Bip é o bar ideal e atestar isso não tarda mais que alguns minutos. Lá, todos se sentem bem e integrados. O lugar é minúsculo e só cabem cinco mesas, onde quatro delas são de exclusivo uso dos músicos, que se revezam nas cadeiras. Lá conheci um chileno que esperou paciente a sua vez de sentar à mesa e desfilar magistralmente quase todos os Afro-Sambas de Baden/Vinícius acompanhado por um pandeirista fantasiado de anjo de minissaia. Sambas antigos e nunca gravados também ecoam nas estreitas paredes do Bip Bip, e quem não conhece a letra espera a hora do “Laiá Laiá”. Um outro violonista, de cabelo prateado, dorme de pinho na mão até ser carregado pelo filho pra casa.


Ainda que pessoas felizes sejam espaçosas, no Bip Bip só se canta baixinho. Palmas? Só estalando os dedos, afinal, os clientes que não cabem no bar estão nos apartamentos que se acotovelam no seu entorno, e as vezes, adormecem antes que o bar.
Garçom não existe no Bip Bip. Quem quiser que se sirva, bastando apenas informar ao dono do bar. Ele anota tudo num calhamaço de folhas presas sob sua taça de vinho, que é abastecida pelos clientes que dividem com ele a quinta e última mesa do bar, que conta ainda com vasilhas empilhadas e uma caixa de garrafa de uísque para moedas, além de um pedaço grande de pão.

Alfredinho rege esse espaço há quatro décadas e é tão querido que suas grosserias acabam entrando para o folclore do bairro. Quando o bar não vai bem, os clientes arregaçam as mangas e não medem esforços para levantá-lo. Todo aquele que vai lá, acaba carregando um pouquinho da responsabilidade de mantê-lo.
Esse bar quarentão precisou até de um livro para guardar uma parcela de suas incríveis histórias. Desde como foi adquirido até as histórias de João Pinel, o louco de estimação do bar. Tudo contado pelos clientes.
Saí de lá com medo de não voltar mais ao bar ideal. O Rio é longe e o Alfredinho pode em breve querer descansar da nossa cara.

Dedico, " O bar Ideal"  aos meus companheiros Damasceno, Dedé, Deysa, Falcão, Marcus Feitosa, Marvioli, Sarah e Wagner, que fazem da mesa de bar, meu divã.

4 comentários:

Marchando disse...

Tive a oportunidade de conhecer o bar ideal. Talvez não tenha o identificado logo como tal,mas lendo o texto pensei em como me senti em casa, como se senti bem estando lá. Boa música, histórias envolventes,clima de amizade.. Não é que parece com a minha casa? rsrs

Marcus Feitosa disse...

De dar água na boca esse bar Ops! Quer dizer: esse texto. Dá ate vontade de se arriscar na wonderful city ou desenterrar aquele violão por aqui mesmo.Parabéns pelo texto meu grande amigo e meu violonista preferido no mundo em todos os tempos.

Marcus Feitosa disse...

De dar água na boca esse bar Ops! Quer dizer: esse texto. Dá ate vontade de se arriscar na wonderful city ou desenterrar aquele violão por aqui mesmo.Parabéns pelo texto meu grande amigo e meu violonista preferido no mundo em todos os tempos.

Sidney disse...

Faltou nesse bar não ter aqueles chatos, que descobrem o bar da moda, o entulham, lotam, fazem os clientes costumazes sumir, só para depois sumirem também e deixarem o dono do bar triste e solitário. Algum bar de Fortaleza chega perto do Bip Bip? Não vale a Feira.