O que técnicos da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) classificam como a sexta pior seca, ocorrida no Estado desde 1958, pode ser medido em pessoas e lugares. Os últimos dados da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará, atualizados em fins de setembro, revelam: 1.884.338 pessoas, moradoras dos 178 municípios que declararam estado de emergência, foram afetadas pela estiagem de 2012. Apenas seis cidades cearenses não compõem este mapa.
Perdas agrícolas e dificuldade de acesso à agua traçam o retrato dos atingidos. A quantidade de chuva, entre janeiro e maio (período demarcado como a “quadra chuvosa”), ficou abaixo da média – entre 33% e 54% negativos - em todas as macrorregiões do Ceará, observou a Funceme.
Foram 352,1 milímetros registrados, colocando 2012 no ranking das piores estiagens desde quando a Funceme iniciou o monitoramento, relata o meteorologista Paulo José dos Santos: 1958 – 230 milímetros, 1998 – 270 milímetros, 1993 – 290 milímetros, 1983 – 315 milímetros e 2010 – 320,7 milímetros.
Somando relatórios da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) e da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), calcula-se em 69,37% as perdas na safra total. A SDA avaliou a produção de grãos em sequeiro (oleaginosas, cereais e leguminosas), típica do semiárido, e mandioca, entre janeiro e julho – o tempo da safra de 2012.
“Dos 182 municípios avaliados - considerando a safra de grãos e mandioca - 166 sofreram perdas maiores que 50%. Destes, 87 sofreram perdas acima de 80%”, sublinha o 13º relatório “Situação da Safra Agrícola de Sequeiro” (SDA). Colheu-se menos 85,85% do que se esperava. Em síntese, deu-se a “pior safra dos últimos 17 anos”.
Os sertões de Inhamuns/Crateús e de Canindé, o Vale do Jaguaribe e Sobral estão entre as regiões mais afetadas pela seca de 2012. E quando a plantação morre de sede, o homem padece com a fome: Crateús (74.249 atingidos), Crato (65 mil atingidos), Tauá e Cascavel (37.667 atingidos, cada) espelham os cidadãos da estiagem.
“Temos uma insegurança alimentar e hídrica maior. O Estado não produz o que é necessário para seu consumo”, avalia Marcus Vinícius de Oliveira, diretor técnico do Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria (ONG atuante no semiárido cearense desde 1974).
Ele explica que a insegurança hídrica está na baixa dos reservatórios – açudes ou cisternas. Já a insegurança alimentar vem anexa à alta nos preços dos alimentos. E o agricultor passa a comprar o que não conseguiu produzir, como o milho e o feijão. “E há uma descapitalização grande, quando ele vende os animais que serviam de ‘poupança’”.
Entre perdas e danos, de algum modo salvaram-se todos por uma convivência renovada com a seca. “Políticas assistencialistas”, relaciona o especialista, “diminuíram o impacto social” da estiagem no Ceará. Não se veem mais as levas de retirantes ou os múltiplos saques dos famintos, literariamente retratados por jornalistas e escritores.
“A previdência social chega ao campo, no fim da década de 90. Fernando Henrique começa o programa de transferência de renda e o Lula prosseguiu. Isso mudou o perfil no campo e diminuiu a vulnerabilidade dessas pessoas”, aponta Marcus Vinícius. Ao passo em que avançam projetos de boa convivência com o semiárido – como Um milhão e cisternas e P1 +2, uma terra e duas águas. “Outra questão é a ambiental, os agricultores já têm como preocupante. O cuidado com seu espaço aumentou. E a água é vista como um bem”, completa.
Hoje a desesperança do sertanejo não é, necessariamente, anunciada pelo mau tempo. “Os programas (pautados por editais) não têm continuidade. É necessário que se tornem mais permanentes, de longo prazo, para saber onde queremos chegar”, considera o diretor técnico do Esplar.
O problema ainda é resolvido com paliativos. Até setembro deste ano, a Defesa Civil do Estado recebeu R$ 10 milhões do Governo Federal para realizar a distribuição de água por carros-pipa. Outros R$ 13 milhões foram para a limpeza de poços profundos, soma Ioneide Araújo, assistente técnica da Defesa Civil.
O Ceará tem 94 municípios inscritos no Programa de Distribuição de Água – Operação Pipa, de acordo com informações da Seção de Comunicação Social da 10ª Região Militar. O programa é desenvolvido com 679 carros-pipa e atende a 720.412 pessoas.
Ele explica que a insegurança hídrica está na baixa dos reservatórios – açudes ou cisternas. Já a insegurança alimentar vem anexa à alta nos preços dos alimentos. E o agricultor passa a comprar o que não conseguiu produzir, como o milho e o feijão. “E há uma descapitalização grande, quando ele vende os animais que serviam de ‘poupança’”.
Entre perdas e danos, de algum modo salvaram-se todos por uma convivência renovada com a seca. “Políticas assistencialistas”, relaciona o especialista, “diminuíram o impacto social” da estiagem no Ceará. Não se veem mais as levas de retirantes ou os múltiplos saques dos famintos, literariamente retratados por jornalistas e escritores.
“A previdência social chega ao campo, no fim da década de 90. Fernando Henrique começa o programa de transferência de renda e o Lula prosseguiu. Isso mudou o perfil no campo e diminuiu a vulnerabilidade dessas pessoas”, aponta Marcus Vinícius. Ao passo em que avançam projetos de boa convivência com o semiárido – como Um milhão e cisternas e P1 +2, uma terra e duas águas. “Outra questão é a ambiental, os agricultores já têm como preocupante. O cuidado com seu espaço aumentou. E a água é vista como um bem”, completa.
Hoje a desesperança do sertanejo não é, necessariamente, anunciada pelo mau tempo. “Os programas (pautados por editais) não têm continuidade. É necessário que se tornem mais permanentes, de longo prazo, para saber onde queremos chegar”, considera o diretor técnico do Esplar.
O problema ainda é resolvido com paliativos. Até setembro deste ano, a Defesa Civil do Estado recebeu R$ 10 milhões do Governo Federal para realizar a distribuição de água por carros-pipa. Outros R$ 13 milhões foram para a limpeza de poços profundos, soma Ioneide Araújo, assistente técnica da Defesa Civil.
O Ceará tem 94 municípios inscritos no Programa de Distribuição de Água – Operação Pipa, de acordo com informações da Seção de Comunicação Social da 10ª Região Militar. O programa é desenvolvido com 679 carros-pipa e atende a 720.412 pessoas.
"MAS DOUTÔ UMA ESMOLA / A UM HOMEM QUI É SÃO / OU LHE MATA DE VERGONHA OU VICIA O CIDADÃO / É POR ISSO QUE PIDIMO PROTEÇÃO A VOSMICÊ / HOME PUR NÓIS ESCUÍDO PARA AS RÉDIAS DO PUDÊ - “VOZES DA SECA”
A QUENTURA DO MAR
Os meses de fevereiro a maio compreenderam a estação chuvosa de 2012 no Ceará, demarca a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). O déficit de chuva que caracterizou a sexta pior seca dos últimos 54 anos tem influência da temperatura dos oceanos Atlântico (Sul e Norte) e Pacífico. O aquecimento e o resfriamento dos oceanos, combinados a outros fatores naturais (como a geografia local), resultam em menos, ou mais chuvas para a região, sintetiza Paulo José dos Santos, meteorologista da Funceme.
“Anos de El Niño são mais secos (ao contrário do fenômeno La Niña, quando há um resfriamento da temperatura do Pacífico)”, traça o meteorologista, em linhas gerais. Este ano, observa, o Atlântico Sul estava neutro, o Norte foi aquecido e o Pacífico apresentou La Niña fraca. “São eles (oceanos) que determinam se a estação vai ser chuvosa ou seca. Não tem uma periodicidade certa, há indícios. O período é irregular, não tem uma causa certa”, explica Paulo José.
Os meteorologistas esperam, então, uma resposta do Pacífico sobre a previsão para 2013. “Em dezembro (quando é possível perceber resfriamento ou aquecimento da sua temperatura), já pode ser determinado. Ainda é muito cedo”, conclui Paulo.
A QUENTURA DO MAR
Os meses de fevereiro a maio compreenderam a estação chuvosa de 2012 no Ceará, demarca a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). O déficit de chuva que caracterizou a sexta pior seca dos últimos 54 anos tem influência da temperatura dos oceanos Atlântico (Sul e Norte) e Pacífico. O aquecimento e o resfriamento dos oceanos, combinados a outros fatores naturais (como a geografia local), resultam em menos, ou mais chuvas para a região, sintetiza Paulo José dos Santos, meteorologista da Funceme.
“Anos de El Niño são mais secos (ao contrário do fenômeno La Niña, quando há um resfriamento da temperatura do Pacífico)”, traça o meteorologista, em linhas gerais. Este ano, observa, o Atlântico Sul estava neutro, o Norte foi aquecido e o Pacífico apresentou La Niña fraca. “São eles (oceanos) que determinam se a estação vai ser chuvosa ou seca. Não tem uma periodicidade certa, há indícios. O período é irregular, não tem uma causa certa”, explica Paulo José.
Os meteorologistas esperam, então, uma resposta do Pacífico sobre a previsão para 2013. “Em dezembro (quando é possível perceber resfriamento ou aquecimento da sua temperatura), já pode ser determinado. Ainda é muito cedo”, conclui Paulo.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/planetaseca/2012/11/10/noticiasplanetaseca,2951312/seca-terrivi.shtml
Um comentário:
Muito boa sua colocação, Marcus!
Postar um comentário