por Paulo Mendes Campos
Uma das nossas contradições fundamentais é a gente desejar viver na cidade grande e levar no inconsciente a intenção de criar em torno de nós a aldeia natal. Essa complicada operação mental explica o prestígio dos bairros parisienses da margem esquerda, do Chesea de Londres, do Village de Nova Iorque e da vila de Ipanema.
Sabemos que a tranquilidade e a solidariedade da vila são imprescindíveis à respiração normal do psiquismo; mesmo assim, no dia do destino enfiamos a roupa do baú, e partimos para a cidade, onde as aflições são certas, mas podem vir misturadas com o prazer. É por sensualidade (gula, luxúria, soberba) que trocamos a paz preguiçosa da vila pelo festival demoníaco da metrópole .
Não sei se algum psiquiatra, da linha freudiana ou herética, já tentou explicar o êxodo rural através do impulso libidinoso. Quanto a mim, creio com simplicidade e sem ciência analítica que o cartaz sexual da urbe é um fator de peso no despovoamento do campo.
O processo de racionalização é simplório: a terra de meu pai está cansada para as batatas; talvez na cidade eu melhore de vida. E os jovens descem aos magotes para os grandes centros, agravando a poluição humana deixando perplexo o Ministro da Agricultura.
In "O mais estranho dos países" Companhia das letras, 2013
Um comentário:
Me lembrou um pouco a ideia geral do livro Carne e Pedra
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