Quantos desconhecidos cabem nos teus sonhos e futuros? De quantos mistérios é feita a tua solidão? Quais esperanças restaram depois de tanta seca, tanto sal, tanta lágrima? No lugar de respostas, três sorrisos e algumas angústias. Perdemos a conta. Te vejo percorrer o centro de cada desilusão, inquieto, tentando inventar novos caminhos. É a luz, você justifica. É a luz que te confunde, embaralha tuas certezas e te guia. Sempre intensa, às vezes frágil, nunca indiferente.
Autorretrato - Iana Soares |
Espalho as tuas janelas sobre a mesa. Observo, sem pressa, a eternidade de cada instante. É um segundo, você me diz. É uma vida inteira, te explico. Não há relógios que acompanhem as nossas expectativas. Talvez tudo seja ligeiro, água que escorre e logo seca. Você toca meus dedos e procura o rastro molhado daquilo que vivemos. Até abrimos mão das dores e corremos, leves, feito criança que não entende de futuros e gasta o sorriso como se fosse algodão doce: delicioso e efêmero. Mas outra vez você percorre o 10x15 do retrato em busca das rugas de um passado recente, impregnado. Para quê tanta ansiedade?
Te mostro outra fotografia e você acha que é espelho. No reflexo, percebo que tudo é diametralmente oposto. Para cada identidade, mil mosaicos. Se existe cor, logo tudo vira preto e branco. Saudade, presente. Passado, viagem. Mestre, aprendiz. Ruído, silêncio. Pobreza, abundância. Onde há vazios, explodem desejos. No jogo, inverto ficção e realidade. Esqueço qual imagem vinha antes e, tal qual cobra de duas cabeças, não há mais fim ou começos.
Quando foi a primeira vez que você me encarou? Ali, quieto, pescador com isca pronta. Não te vi, nunca vejo. Apenas intuo. Pressinto cada clique que você nunca me devolveu. É tudo seu, você joga no meu colo. Queria que fosse nosso, grito em mais outro sussurro. Você entende e agradecemos ao acaso e a cada escolha que fizemos, tão cheios de esperanças. É do conflito que nasce cada pixel. É do amor que sobrevivem algumas imagens.
Não sei se é miragem, não importa. Vivemos. Pensamos, sugerimos, odiamos, conversamos, insistimos, amamos. Sonhamos. E é por não saber fazer de outro jeito que arriscamos. Somos invenção. Fotografamos.
Te mostro outra fotografia e você acha que é espelho. No reflexo, percebo que tudo é diametralmente oposto. Para cada identidade, mil mosaicos. Se existe cor, logo tudo vira preto e branco. Saudade, presente. Passado, viagem. Mestre, aprendiz. Ruído, silêncio. Pobreza, abundância. Onde há vazios, explodem desejos. No jogo, inverto ficção e realidade. Esqueço qual imagem vinha antes e, tal qual cobra de duas cabeças, não há mais fim ou começos.
Quando foi a primeira vez que você me encarou? Ali, quieto, pescador com isca pronta. Não te vi, nunca vejo. Apenas intuo. Pressinto cada clique que você nunca me devolveu. É tudo seu, você joga no meu colo. Queria que fosse nosso, grito em mais outro sussurro. Você entende e agradecemos ao acaso e a cada escolha que fizemos, tão cheios de esperanças. É do conflito que nasce cada pixel. É do amor que sobrevivem algumas imagens.
Não sei se é miragem, não importa. Vivemos. Pensamos, sugerimos, odiamos, conversamos, insistimos, amamos. Sonhamos. E é por não saber fazer de outro jeito que arriscamos. Somos invenção. Fotografamos.
Publicado na revista "Olho de peixe" e no Facebook - https://www.facebook.com/ianascm?hc_location=stream
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