Via Bruno Perdigão
Por Camila Demario
Por Camila Demario
Crédito:Reprodução
Perfil do Jornalismo Wando no Twitter
Apesar de já ter revelado sua identidade em uma entrevista em 2011, ano em que criou o perfil, João prefere hoje ser descrito apenas como um “morador de 33 anos da zona norte de São Paulo”. Ao contrário do que muitos dos seus seguidores pensam, João não é jornalista, mas tem interesse por debates políticos e sociais, como diz em entrevista exclusiva dada à IMPRENSA. Confira:
IMPRENSA - Quando o personagem foi criado e qual foi a motivação? Por quê o nome Wando?
JORNALISMO WANDO - Criei o @JornalismoWando em meados de 2011. Começou com uma brincadeira no Twitter sobre jornalistas fofos que paparicam os entrevistados, que evitam incomodar. Então o Jotabê Medeiros [jornalista do O Estado de S. Paulo] criou a hashtag #JornalismoWando, uma referência a esse grande artista popular, o cantor Wando, que com seu jeitinho sedutor e "querido" conquistou milhares de fãs. Foi a partir daí que começou a palhaçada toda. No mesmo dia criei o perfil e muita gente seguiu.
Como é sua rotina de trabalho? É formado? Como surgiu interesse pelo jornalismo?
Meu interesse pelo jornalismo vem do meu interesse pelos debates políticos e sociais. Não sou jornalista.
Você parece ser uma pessoa bastante influente no meio. As suas fontes já o conheciam ou aumentaram com a identificação com o personagem no Twitter? Muita gente o confunde com jornalista?
Pareço tão influente assim, é? Então estou enganando bem (risos). O Wando fez muitos amigos do meio e, às vezes, a gente fica sabendo de algumas coisas. Sempre cai um "offzinho" nas DMs e é por isso que há muitas pessoas que acham que sou algum jornalista se aproveitando do anonimato para proteger a imagem profissional.
Qual sua relação com os jornalistas? Já foi processado, recebeu ameaça?
Tem os que gostam, os que ignoram e os que bloqueiam. Tomo muito cuidado para não ser processado, mas já houve ameaças sim. Nada que uma conversa ao pé do ouvido com o Wando não resolva.
O que é, na prática, o “jornalismo Wando” praticado pelos profissionais e veículos atualmente? Essa forma de jornalismo cresceu nas últimas décadas?
Jornalismo Wando é esse pretenso jornalismo imparcial, como se isso fosse possível. É o jornalismo que trata a notícia com um produto a ser vendido e não um fato a ser dissecado, analisado e criticado. É aquele jornalismo mais centrado na forma que no conteúdo, em que o jornalista tem que apelar pra uma manchete babaca ou um infográfico inútil pra dar aquela colorida na matéria.
É também aquele jornalismo-fofurinha, estilo Sandra Annenberg, em que o jornalista ri, chora, se emociona e se envolve com a notícia como se estivesse num programa de auditório. Você viu a cobertura da visita do papa? Quem não é católico teve que aturar o jornalismo Wando apostólico romano 24h por dia. Os jornalistas da televisão estavam visivelmente emocionados com a visita do Santo Padre. A Leilane Neubarth só faltou ajoelhar no estúdio da GloboNews. Inacreditável.
Como foi o convite do Yahoo!? Tem contrato com número de posts, remuneração, é uma fonte de renda?
Habemus contratus.
O tumblr “Sou reaça, mas tô na moda” também é seu, mas a última atualização é de maio. Perdeu interesse ou falta tempo?
Falta tempo, quem sabe mais pra frente não volto a atualizar. Os reaças da moda se multiplicam numa velocidade impressionante e eu não estou dando conta. Se alguém quiser me ajudar a atualizá-lo, pago bem em cubo cards.
A crítica feita em seus textos tem a ver com a aproximação do jornalismo com o entretenimento?Sim, principalmente na televisão, onde os dois estão cada vez mais próximos. Quantos jornalistas que já abandonaram a profissão para apresentar programas de entretenimento? Britto Jr, Pedro Bial, Tiago Leifert, Fátima Bernardes e vários outros. O Leifert abandonou também, porque aquilo que ele faz no "Globo Esporte" está mais pra "Caldeirão do Huck" do que jornalismo. E ainda alguns têm coragem de chamar aquela micagem que ele faz de revolução. O Celso Zucatelli, por exemplo, que apresentava o "Jornal da Cultura", hoje ensina receitas nas manhãs da Record. Não é coincidência. Parece que cada vez mais tem jornalista formado querendo ser rostinho bonito na televisão. Não é o que eu entendo por jornalismo. Não quero parecer tão ranzinza, acho que há espaço pra tudo e todos. O problema é que essa babaquice está virando a regra.
Quais jornalistas/veículos você – e seu personagem – acha que faz bom jornalismo?
Tirando a revista Veja, que não faz ideia do que seja jornalismo, há bons e maus exemplos em todos os veículos de imprensa. Difícil criticar ou elogiar em bloco. O maior problema da imprensa é o monopólio dos empresários de mídia. É aquela velha história: meia dúzia de famílias milionárias comanda o mercado da informação, formam monopólios, concentram poder e jogam com os 3 poderes. Não há nenhuma regulação no setor como há em todos as atividades da economia, o que é um absurdo. E só a democratização da mídia desconcentrará o mercado, trará novos atores, aumentará a concorrência e melhorará a qualidade do jornalismo.
A última “polêmica” sobre jornalismo no Twitter tem sido o Mídia Ninja, que divide opiniões entre os profissionais. Você já criticou a falta de transparência do grupo no perfil do Wando. Assistiu o "Roda Viva" O que acha do jornalismo feito pelo grupo?
Acho interessante a ideia e o formato do Mídia Ninja, mas acho que estão completamente equivocados politicamente. Foram entrevistar Eduardo Paes, por exemplo, e foram massacrados pela retórica do político profissional. Saíram pequenininhos da entrevista e só levantaram a bola para o prefeito. Acho importante que eles não se colocam como imparciais e admitem estarem fazendo política. Só acho que estão fazendo do jeito errado. Para o Mídia Ninja agora é interessante que haja protesto todos os dias, tanto que eles sempre incentivam nas suas transmissões. Aí a coisa complica.
Assisti ao "Roda Vida" e achei que eles foram muito bem e falaram verdades que nunca foram faladas ali. Mas o Capilé, mais uma vez, não conseguiu ser transparente com as questões financeiras do Fora do Eixo, apesar da sua retórica de político profissional. E eu gostaria de saber melhor com funciona a estrutura financeira, ainda mais porque acho que a vaidade política do Capilé supera esse espírito coletivista. Conheço muita gente que trabalhou com ele e sei que a coisa não é tão romântica assim. Acho que existe uma necessidade de se buscar um protagonismo pelo protagonismo.
Por quanto tempo pretende levar o personagem? Espera dar alguma contribuição?
Caramba, nunca pensei nisso. Sei lá, vou “lewando”.
Assim como o Wando, o jornalismo morreu? Sim/não, por quê?
Não morreu, mas está passando por uma profunda transformação e ninguém sabe muito bem onde vai dar. Mas uma coisa é certa: não haverá mais espaço para o cinismo da imparcialidade. Quem quiser sobreviver no mercado vai ter que ser cada vez mais transparente. Porque o cara escreve um texto cheio de falsidade no jornal e no mesmo dia já tem um blog desmascarando tudo.
Pretende levar o personagem para outras plataformas, como livro, por exemplo?
Nunca pensei nisso, mas realmente daria pra escrever um livro com as peripécias do Wandinho. Ele já cantou e encantou muita celebridade, jornalista, político.
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