Por Luciana Andrade
Já começo com ressalvas. E nada garante que não serei mal compreendida. Não sou mãe, sei que muitas famílias precisam de ajuda para cuidar das crianças, não há creches nos três turnos, a noção de maternidade varia de mulher para mulher e, na minha modesta opinião, o pai deveria ajudar mais. Todavia, nenhuma dessas razões e o fato de eu não ter conhecimento de causa desautorizam minha indignação com alguns pais que delegam a criação dos filhos para outrem e tratam as babás com pouca escolaridade como serviçais. É disso que estou falando.
Essa semana, o blog com o texto “Viagem levando babás” causou polêmica nas redes sociais. A “patroa” referia-se à funcionária como “um item” e ensinava a lidar com a profissional na hora do almoço ou nos passeios em família, tratando como generosidade o ato de se lembrar da alimentação da babá, por exemplo. Infelizmente, são ideias compartilhadas por muitos. É fácil visualizar exemplos de babás “colocadas no seu lugar”, em diversos graus, nos shoppings e restaurantes.
Nenhuma outra atividade remete de maneira tão forte à herança da sociedade escravocrata. A desigualdade baseada nas antigas noções de sexo e raça se perpetua, assim como a naturalização de alguns registros simbólicos: o quartinho misturado com a área de serviço, as práticas de favor e informalidade, a comida separada, a doação das sobras.
A exigência de dormir no emprego é a negação da possibilidade de uma vida privada para as babás. Uma versão contemporânea de Casa-Grande & Senzala.
Mulheres que assimilaram os novos privilégios subordinam outras mulheres e reproduzem o machismo, que consolidou a inferiorização feminina ligada aos afazeres domésticos. Palavra incômoda, aliás, por lembrar “domesticação”. O uniforme branco só clareia a segregação. Que valores são transmitidos por pais que sequer superaram a ideia de que as babás lhes devem gratidão, são “da família” e não têm direitos profissionais e humanos? Eis uma imensa discussão.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2013/01/17/noticiasjornalopiniao,2989925/babas-de-branco-e-resquicio-da-casa-grande.shtml
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