Gildo da Unidos da Cachorra ( Foto André Salgado) |
- Quem um dia ousou cantar que “todo Carnaval tem seu fim” nunca entrou na casa de um carnavalesco nato. Sim, ali as quartas-feiras de cinzas também se vão, mas a essência que move os carnavais nunca larga a morada de seu fazedor. Na casa 374 da rua Marechal Deodoro, pelo menos, é assim. Desde que assumiu a presidência da bateria Unidos da Cachorra, em 2003, Gildo não se despediu mais do Carnaval.
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A casa que há 30 anos foi morar com a sua Odilva, no bairro Benfica, passou a ser também a sede da agremiação. Desde então, a alegria do verde e laranja que estampa o estandarte da Cachorra enfeita o seu quintal o ano inteiro e toma seu tempo com a confecção e consertos de instrumentos de percussão para a bateria. “Isso aqui pra mim é uma vida, é o meu terceiro amor. Primeiro, minha esposa, meu filho, depois vem a Cachorra”, anuncia.
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Nascido em 14 de abril de 1954, em uma localidade de Quixadá, no Sertão Central do Ceará, Gildo foi registrado Hermenegildo, o nome do avô, mas depois que a mãe perdeu sua certidão de nascimento e foi procurar a segunda via, descobriu que o nome do menino tinha sido oficializado José de Castro Moreira. Assim ficou nos documentos, mas foi o apelido que pegou e é o que vale até hoje.
Carregando a alcunha dada pelo avô, Gildo chegou a Fortaleza para estudar ainda meninote. “Vim chorando como se estivesse indo pra prisão. Foi um baque pra mim porque eu adorava o sertão, aquela liberdade, vivia sem medo de ser feliz”, lembra Gildo, hoje engenheiro mecânico formado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
- Logo se casou e mudou-se para a rua Marechal Deodoro, então conhecida como rua da Cachorra Magra.
Diz-se que o nome surgiu por conta de uma cadela faminta que andava por ali, caçando os bichos que passavam pela rua a caminho de um matadouro das proximidades. Se é verdade, ninguém sabe, mas o apelido ficou e deu nome à troça criada, em 1988, por um magote de festeiros que todo Carnaval tinha vontade de se juntar aos blocos que desfilavam pela avenida Domingos Olímpio. No Carnaval daquele ano, pela primeira vez desceu pela Marechal Deodoro, ao som de instrumentos de sopro e percussão, o bloco da Cachorra Magra.
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Gildo, que até então não se dizia um carnavalesco, viu a movimentação puxada pelos vizinhos Amauri, Joãozinho Barry White e Paulo Brasil virar Carnaval. Ele, no entanto, ficou de fora, só acompanhando o repertório de marchinhas e frevos. Em 1998, o bloco montou sua própria bateria de escola de samba, bem aos moldes do Carnaval carioca. Na falta de gente para tocar, foi o jeito Gildo juntar-se aos vizinhos e cair no samba também, se arriscando em um surdo de terceira. Nascia aí a bateria Porra da Cachorra.
O nome nada familiar acabou sendo trocado por Unidos da Cachorra, para manter a ligação com o berço.
- Depois da saída do então presidente Paulo Brasil, já nos anos 2000, o bloco passou dois anos sem desfilar. Gildo, nesses tempos já um amante assumido do Carnaval, para não deixar o samba morrer, se propôs a comandar a agremiação. A esposa, antes cabreira, passou a abrir a casa para os ritmistas e oferecer o caldinho da sustança pra quem estava nas últimas. “O samba foi um acaso na minha vida. Apareceu na frente da nossa casa e foi o jeito a gente aceitar”, conta, rindo.
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- No próximo sábado, 7, a Cachorra lança o clipe oficial do samba enredo Balança Cachorra!, de autoria de Haroldo Guimarães, Leandro Rodrigues e Felipe Splinter.
- A música foi a ganhadora de um concurso promovido pelo bloco para escolher o samba de 2012. A exibição acontece a partir das 15 horas, durante o último ensaio da bateria, na Quadra da Unidos da Cachorra (Rua Dragão do Mar quase esquina com Almirante Jaceguai).
- Neste ano, os desfiles do bloco acontecem nos dias 14, 21 e 28 de janeiro e 4 e 11 de fevereiro, a partir das 16 horas, com concentração em frente ao Clube 20, na Praia de Iracema.
- Vídeo do Samba enredo da Unidos da Cachorra 2012
- matéria do O POVO http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2012/01/04/noticiavidaeartejornal,2367715/segura-cachorra.shtml
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